ÀS FAVAS TODO O MEU PALAVRÓRIO E OS BONS MODOS
Às favas todo o meu palavrório, pois nele nem eu acredito mais, eu só queria uma noite de paz, sem tristezas, sem lembranças, sem saudades, sem ilusões, sem lamúrias; queria mesmo era correr atrás de Arnaldo Antunes e Zizi Possi e fazer coro com eles quando cantam que não tenho paciência para televisão; que cansei de ser audiência para a solidão, que agora sou de todo mundo e todo mundo é meu também e que estou te querendo como te quero / to te querendo do jeito que te quero / to te querendo do jeito que você é/ to te querendo/ to te querendo . Queria que baixasse em mim o espírito de Manuel Maria Du Bocage a quem se atribui um anedotário cabeludo e eu aqui chegasse e mandasse ver uma “impudicícia” qualquer. Queria dizer um montão de besteira inconseqüente, sem nexo. Queria pintar o meu cabelo de verde pra chamar atenção. Queria falar alto, gesticular, dizer alguns palavrões, xingar a mãe de alguém, bater a porta, cuspir no chão, limpar a boca com a manga da blusa, palitar os dentes. Queria beber cerveja e arrotar; Queria dizer que cansei. Cansei de bons modos, cansei de mim. Cansei de correr atrás. Cansei de dizer olhe pra mim, me atropele Queria rezar um Pai Nosso, uma Salve Rainha, o Credo depois me benzer e dizer Amém. Para dormir e nem sei se quero acordar.