LISBOA

Lisboa me conquistou completamente logo à primeira vista, ainda bem longe, lá do alto quando o avião sobrevoava as proximidades do seu aeroporto e dava início às manobras para o pouso. Descompassado como um adolescente ansioso na pressa do primeiro encontro, meu coração acelerava o ritmo e se enchia de emoção ante a perspectiva de pisar o solo português onde D. João Sexto, D. Pedro Primeiro, o primeiro imperador brasileiro, e tantos outros personagens da nossa história caminharam e deixaram a marca de suas personalidades. Ali me esperavam séculos de cultura e conhecimento num ar monárquico ainda suspirando pelo espaço luso. Escutando os murmúrios dos demais passageiros, minha esposa através da janelinha do avião fotografando os fragmentos de Lisboa vistos lá de cima, retirei o relógio do pulso e, todo solene, adiantei quatro horas no fuso horário. Em Natal, de onde saímos pela uma da madrugada, passavam das nove da manhã naquele momento; em Portugal, no mesmo instante, estávamos próximos das duas da tarde. Suavemente o trem de pouso foi acionado e o boing da White aterrissou na pista do aeroporto deslizando desabalado à frente, os flaps funcionaram ao comando do piloto, freando-o, as turbinas foram desligadas e ele ficou ronrronando feito um gatinho em busca de colo.

É fácil imaginar a correria e o tumulto para desembarcar depressa do avião, passaporte na mão, a bagagem carregada de qualquer maneira, para alcançar logo a aduana e concluir rapidamente os procedimentos de praxe na imigração. Mas a vida de todos nós, sem exceção, tem suas esperas e demoras e o tempo segue seu lento caminhar indiferente à pressa dos seres humanos. Nem um milionésimo de sua jornada é alterada para mais ou para menos com vistas a atender as vontades de alguém. O tempo tem seu próprio ritmo inabalável. Assim, até chegar a nossa vez de carimbar os passaportes com o visto de entrada em terras européias ainda nos arrastaríamos passo a passo, na lentidão das lesmas. O que, por fim, tanto tempo depois devido a longa fila, ocorreu para alívio nosso.

Tudo na vida, bem sabemos, demanda o nervosismo do aguardar, do saber onde por os pés e deixar-se guiar pelo tino da paixão e da razão. Quem a tudo teme perde tempo com seus medos e esconde a cabeça num buraco qualquer deixando o corpo à mercê de predadores. E por que essa reflexão profusa e desconexa em plena chegada a Lisboa? Provavelmente em virtude dos intervalos entre o ir e vir das bagagens nas esteiras, a rápida passadinha pelo free shop mirrado e, ao fim e ao cabo, nada a declarar às portas da cidade, as primeiras fotos para eternizar aquele momento. À saída, empurrando o carrinho do aeroporto cheio de malas, um cartaz escrito à mão balançava à força do vento frio seguro por uma jovem de aspecto português, pois não, informava: Hotel Villa Galé. Um ônibus nos esperava amontoado em meio a tantos outros. O traslado é algo muito importante para o neófito na Europa. Dá segurança e tranquilidade ao engatinhar e aos primeiros toques e inspirações do ar novo a encher os pulmões. O sol cobria a capital de Portugal coadjuvado pela gélida brisa rodopiando serelepe em derredor.

O motorista do ônibus acomodou as bagagens, entramos, nos acomodamos sorridentes e deixamos nossos olhos vagarem pela paisagem nova que se descortinava para onde quer que olhássemos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 18/04/2009
Reeditado em 22/07/2009
Código do texto: T1545372
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