O VOO SEM VOLTA

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Já escrevi alguns textos onde narro minhas experiências como portador do transtorno bipolar. Assim, não é de hoje que venho visitando portais em busca de novidades sobre o tratamento do TBP.

Dia desses, fazia uma busca no Acervo Digital da Veja.com, quando caí em um artigo do jornalista Marcelo Bortoloti, O Voo sem Volta do Inventor (dezembro de 2007), que lança uma nova luz sobre o suicídio de Santos Dumont. Com sua licença, Marcelo, vou comentá-lo aqui, pois, seu artigo traz informações muito interessantes.

Nos últimos 59 anos Alberto Santos Dumont, ganhou muitas biografias. Porém, até hoje não se sabe, realmente, as razões que o levaram a se matar, num banheiro de um hotel no litoral paulista. A versão de que o suicídio foi motivado pela angústia de ver seu invento ser utilizado para uso militar, segundo os pesquisadores, não resistiria a uma análise mais atenta. Quem leu a biografia de Dumont, tomou conhecimento de que ele padecia de uma doença psíquica mal conhecida pela medicina da época e, portanto, sem registro confiável de suas causas. Só não há consenso entre os biógrafos sobre o diagnóstico. Alguns dizem tratar-se de neurastenia, outros de esclerose múltipla, outros ainda de depressão profunda.

Há documentos - preservados - relativos à doença de Santos Dumont: recibos de farmácias, comprovantes de consulta médica, cartas dele e de seus amigos. Os documentos mostram sua batalha para manter-se lúcido. Uma batalha que acabou perdendo.

A Revista Veja teve acesso a esses documentos e os submeteu a seis médicos da Academia Nacional de Medicina, da Federação e da Associação Brasileira de Psicanálise. Para os especialistas consultados, o que levou o inventor à morte foi o transtorno bipolar, hoje diagnosticável e tratável.

Os especialistas basearam a avaliação na documentação médica disponível, nas cartas e no histórico de comportamento de Dumont.

De 1910 até 1924, ou seja, dos 37 aos 51 anos, ele passou a sofrer crises de depressão esporádicas. Em 1925, internou-se em uma clínica de repouso na Suíça. Dois anos depois, quando recebeu alta médica, não queria ir embora, contrariando os conselhos dos médicos. Nos picos de euforia, ele canalizava o lado maníaco do bipolar, ou seja, as manias, para invenções pouco funcionais. Na mesma clínica tentou voar por uma janela com um rústico par de asas amarrados às costas. Foi impedido pelas enfermeiras. Em 1928, criou o Conversor Marciano, uma espécie de hélice que, colocada nas costas de esquiadores, deveria ajudá-los a subir montanhas com menor esforço. Em 1931 escreveu: "É a primeira carta que escrevo depois de ficar dois meses de cama. Talvez amanhã vista roupas e botinas".

Dumont tentou se matar três vezes. A primeira foi em uma clínica Francesa, onde ficou internado. A segunda a bordo de um navio, ocasião que redigiu um bilhete: "Hoje de manhã eu quis me suicidar e foi Jorge que me salvou. Se na próxima vez isso acontecer, a culpa é toda minha". Dias depois quando o navio atracou, seu estado emocional já era o oposto: falante, andando de um lado para o outro e exibindo aos jornalistas sua nova invenção, um estranho aparelho voador individual.

Para muitos a personalidade excêntrica de nosso inventor era vista como um produto de sua genialidade. Poucos a associaram a sua doença.

No Brasil, consultou com Juliano Moreira, um dos maiores nomes da psiquiatria mundial. Também o psiquiatra Henrique Roxo, muito requisitado por suas receitas a base de plantas medicinais. Nada funcionou.

"Ele buscou tratamento em diversas ocasiões, o que não é comum em pessoas depressivas, que tendem a justificar os sintomas como produto de causas externas", diz um de seus principais biógrafos, Henrique Luís de Barros.

Seu quadro foi repetidamente descrito nas biografias, mas não as manias. "Ele tinha uma personalidade dupla. Alternava momentos de depressão com outros de euforia o que caracteriza o transtorno bipolar do humor". Diz o psiquiatra José Candido, um dos ouvidos pela revista.

Enfim, "a tese simplista do suicídio provocado pela angústia de ver os aviões usados na guerra ajudou a reforçar o mito do herói. Mas prejudicou a pesquisa sobre a verdadeira história do grande brasileiro." (Marcelo Bortoloti). ®Sérgio.

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Se você encontrar erros (inclusive de português), faça a gentileza de avisar-me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 17/04/2009
Reeditado em 14/06/2013
Código do texto: T1545230
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