Picaretas no paraíso
Acredito que outras pessoas sintam algo parecido: certa desconfiança da área médica. Relutei em escrever a respeito certamente porque, ao longo da vida, me foram passadas imagem e sentimento de que medicina é um verdadeiro sacerdócio. Para mim os jalecos tornam aquelas pessoas algo sagrado. Aprendi a ter um respeito cerimonioso e fraternal para com os médicos. Por isso a relutância de admitir que parte deles pareça corrompida pela estrutura no intuito de ganharem mais dinheiro. Prefiro excluir dessa desconfiança a palavra incompetência. Afinal, errar é humano, embora cada vez mais sinto o cheiro da ambição desmedida, sobretudo quando muitos destes profissionais liberais se tornam empresários, isto é, donos de clínicas. Os motivos para essa “teoria da conspiração” vão desde a resistência que percebo nos planos de saúde para autorizar exames até a marca da medicação ou laboratórios indicados. Evidentemente que o progresso da medicina criou máquinas que praticamente determinam os diagnósticos e que esses exames em grande parte são inevitáveis, mas tal progresso nunca inclui custo baixo, pelo contrário, e é aí que residem as brechas para o exagero desses custos. Não conheço o suficiente as outras capitais do país para comparar com o Recife, onde o crescimento do número de hospitais particulares é desproporcional ao de outros setores. Isso, é claro, não deflaciona o mercado, cuja demanda é sempre muito maior que a oferta. Entretanto revela a mesma face cruel dos preços internacionais quanto a os remédios essenciais, ou seja, não há como deixar de se fazer um tratamento ou de se tomar um remédio que se precisa. Assim ficamos sujeitos a todo tipo de chantagem comercial. Entrar numa clínica hoje dá sensação parecida com a de comprar carro usado, com uma desvantagem: andar a pé pode matar. Concordo que é com o dinheiro que se mantém e faz crescer tais organizações e seria ridículo não entender a selva em que vivemos. Mas que dá a sensação de que se está sendo enganado no que se tem de mais crucial, isso dá! Quanto ao corporativismo, isso é outra nova questão...