A CHUVA QUE SABIA DEMAIS!
= Cúmplice de meus segredos =
 
Ah! Como traduzir este sentimento, avesso às contradições, lambuzado de sensações que cegam o mais puro dos mortais, aquele que não se queda às fraquezas humanas. Inconcebível pecado, molhado de suor, no estupor de minha vontade, entreguei-me e só tu fostes testemunha dessa improvável loucura!
 
Saí em noites sem lua, na escuridão dos sentidos e de meu querer insensato, despi-me de todos os pudores para que minha alma irrequieta se purificasse em tuas águas. Fui a rameira pecadora, a santa injustiçada e misturei o meu pranto de arrependimento às lagrimas derramadas por ti.
 
Não! Tu não tens a mínima ideia de como fui verdade! Jamais me banharia em tuas águas, nua como vim ao mundo, se tal não fora meu mais ínfimo desejo! A entrega só é completa quando os amantes se misturam às estrelas e apanham a vida nas mãos!
 
Só tu – ninguém mais – tiveste acesso aos meus segredos, soubeste desvendar os meus mistérios! Só a ti eu ousei confidenciar a minha história, abrir a minha guarda e ser eu mesma - quando caías como tempestade furiosa e eu abrigava-me em ti.
 
E, quando o medo calou a minha voz, tu bateste em minha janela, me despertaste na madrugada, para que eu te assistisse. Quando – assoberbada pelas paixões ausentes – vi-me em completa solidão, tu fostes a minha companheira. Em ti eu lavei inúmeras lágrimas pranteadas por mim mesma, em repúdio ao desespero das noites insones.
 
Rodopiei, cantei, fui feliz e infeliz, quando jorravas paixão, inundando-me inteira, nas noites quentes de verão. Assustadores temporais anunciavam o que já eu sabia, intimamente - a total escuridão que me habitava. Contudo, tu lá estavas para me abraçar.
 
Em meus delírios eu te chamava. Em meus devaneios eu te necessitava. E, quando, como um bêbado solitário, eu vagava cambaleante, em busca de minha paixão extraviada, onde mais eu buscaria abrigo, senão em tua proteção? O meu confessionário era a janela aberta para a solidão das noites frias, em que eu te avistava e aspirava o teu perfume. Cheiro de terra molhada, odor de vida esvaída, de tristeza anunciada!
 
Chuva bendita – única testemunha de meus desvarios, cúmplice de minhas loucuras, palco de meus anseios e de escapadas furtivas em orgias do pensamento obsceno que se sobrepunha a minha razão. Mais do que eu mesma, tu me desvendavas. Tu sabias demais!
 
(Milla Pereira)
 
Este texto faz parte do III Desafio Recantista de 2009.
Saiba mais – conheça os outros textos:
http://www.escritoresdorecanto.xpg.com.br/desafio200903.htm
 
 
 
Amigos!
Um belissimo dia a quem por aqui passar.
Tenho compromissos inadiáveis agora  
mas voltarei mais tarde para ler todos que faltam!
Beijos no coração.
**Milla**