A CHUVA QUE SABIA DEMAIS - LÁ FORA, NEGRA ERA A NOITE

A noite estava se indo, encerrei a leitura de “O Pálido Olho Azul” um

thriller de Louis Bayard e fiquei quieta na minha cama, ouvindo o

barulho dos trovões, ao mesmo tempo em que observava através da janel envidraçada do meu quarto, os rasgos de luz que cortavam o céu em ziguezague; levantei e me dirigi até a janela com o intuito de cerrar as pesadas cortinas, mas não o fiz de pronto, encostei o meu rosto na vidraça embaçada e assim permaneci. Lá fora, negra era a noite;lembrei que, pelo calendário, a lua cheia deveria brilhar no céu. A

batida irritante dos pingos d’água na vidraça me fez afastar o rosto,

mas continuei presa à janela. Sim, já tinha vivido situações iguais a

esta, tendo a chuva como parte do cenário e testemunha desses

momentos. Talvez, na condição de partícipe, eu pudesse até dizer, que

ela, a chuva, sabia demais... Sabia que neste momento ao meu lado

estava faltando alguém... E se a chuva fazia negra a noite e

representava o choro da Natureza, as lágrimas dos meus olhos, que

embaçados tal qual a vidraça da janela, representavam o choro sofrido

pela ausência sentida do ser amado. Sentia falta de sua presença, de

seus braços cingindo a minha cintura, seu queixo forte pressionando o

meu ombro, observando a chuva e o seu hálito quente explicando-me

didaticamente o que ocorria para que houvesse a sonoridade dos trovões

e a descarga elétrica chamada relâmpago e eu rindo do seu didatismo,

ao mesmo tempo em que me encolhia nos seus braços por conta das

cócegas que sentia dos seus beijos na minha orelha... Do seu jeito

gracioso e meio moleque de sugerir fazer amor, apontando-me a cama,

esta mesma cama para a qual estou voltando; agora vazia dele e onde me

jogo sem a mínima vontade de trocar-me nem tampouco de dormir... Lá

fora a chuva continua e dentro de mim a velha angústia. E cá estamos:

eu, a minha solidão e o poeta maior, para quem digo: Ah, meu poeta...

Se ao menos eu endoidecesse de vez e não “deveras”... Cerro os olhos,

antes fechando mais um livro... Agora de Fernando Pessoa.

Boa noite, meu amor.

Este texto faz parte do III Desafio Recantista de 2009.

Saiba mais, conheça os outros textos: http://www.escritoresdorecanto.xpg.com.br/desafio200903.htm

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 17/04/2009
Reeditado em 17/04/2009
Código do texto: T1544206
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