A chuva que sabia demais - O desafio
Mais uma vez estou participando de um desafio. Dado um determinado título que saiu da cabeça de não sei quem tenho que escrever sobre a Chuva que sabia demais. Nunca pensei que a chuva soubesse alguma coisa, nem de mais nem de menos. Chover é apenas um processo da Natureza. A confirmação de um ditado: tudo o que sobe, desce. A chuva apenas chove porque essa é sua natureza. E eu tenho que aceitar o desafio porque essa é minha natureza. Se a chuva realmente soubesse alguma coisa nunca choveria demais nem de menos. Chovia a quantidade certa. Porque na quantidade certa ela é bem vinda. Nos exageros de sua queda quantos ovos não são colocados no telhado para Santa Clara fazê-la parar em vez de serem aproveitados em uma boa omelete? Quantas promessas não foram feitas, esfolando joelhos no desespero de que ela caia? E o pior deste desafio é que tem de ser crônica. Se fosse poesia seria bem mais fácil, pois é natureza do poeta cantar como receptáculo de sentimentos humanos as forças da natureza. Eu mesma já fiz isso. Cantei a chuva, cantei o vento, o sol e a lua, usando metáforas para na verdade cantar o que ia dentro de minha alma. Se fosse conto também não seria difícil: eu poderia reproduzir aqui uma linda história que escrevi para ganhar um anel de brilhantes de uma revista feminina. E ganhei, contando a milagrosa história que chamei: Sempre chove no Natal. Nessa história um casal pobre e apaixonado prepara seus presentes de Natal, um para o outro. Ela compra um guarda- chuva porque percebeu que o amado não tinha e sempre chegava a sua casa, ensopado. Ele fez o mesmo e comprou uma sombrinha, talvez porque tinha percebido que ela vivia resfriada já que sempre apanhava chuva quando ia para o trabalho. Mas... Os dois brigaram, por uma coisinha de nada e a coisa foi crescendo de tal forma que parecia não haver solução: então o Natal chegou e a dor dos dois se tornou-se insuportável. Foi aí que a chuva sabida resolveu cair. E caiu exatamente quando ela estava assistindo a Missa do Galo e era tão forte que ninguém em sã consciência sairia na rua. Mas ele saiu: foi esperá-la na porta da Igreja com a sombrinha florida com rosas vermelhas que tinha comprado para presenteá-la e ela saía da Igreja empunhando o negro guarda-chuva. E aí,presentes trocados, as lágrimas se confundindo com a chuva, os dois foram para casa bem protegidos e foram felizes pelos séculos dos séculos amém. Seria esta a chuva que sabia demais do desafio? Espero que sim porque não consigo ter outra idéia para escrever uma crônica e o meu espaço está acabando. São cinquenta linhas apenas e se eu inventar outra história vai ultrapassar as cinquenta linhas permitidas e eu já estou chegando lá. Só espero que não aconteça como da última vez que, uma hora antes da postagem eu consegui deletar o meu conto e tive que fazer outro a toque de caixa, resumindo toda a fantástica história que eu tinha inventado só para depois saber que o meu texto tinha sido longo demais.
No entanto, já chegando à hora de acabar, vem a minha mente aquela tarde chuvosa em que eu e ele nos despedimos, em que deixamos de ser nós para sermos seres isolados e tristes quando a chuva que caia lá fora caia também em meus olhos e selava meus lábios. Desde então, desde essa cerimônia irrecuperável do adeus, todas às vezes em que chove daquele jeito, mansamente e triste meu coração retorna aquela tarde. É então que compreendo que a chuva que cai lá fora é a única que sabe realmente porque ainda choro.
Este texto faz parte do III Desafio Recantista de 2009.
Saiba mais, conheça os outros textos: http://www.escritoresdorecanto.xpg.com.br/desafio200903.htm