PUTAS PÓS-MODERNAS

Não acredito numa vida sem encantamentos.

E o que mais me atormenta nestes tempos pós-modernos é o american way of life que se apossou das discípulas tupiniquins de Madalena. Tudo virou business. Meretrizes tornaram-se balconistas do sexo: Como vai ser? Eu faço, isto, faço aquilo, faço aquilo outro, pago boquete e deixo gozar na cara...

Eu imagino o que seria de Nélson Rodrigues hoje... Teria no máximo um blog, afinal o que há de novo sob o sol? O que fizeram com o proibido?

Peraí, antes que me chamem de moralista, eu explico...

Sou do tempo em que a gente lia Lucíola no ginásio e A Dama das Camélias no segundo grau.

Naqueles tempos havia poesia na vida e a vida possuía nuances de encantamento. Existiam as mentiras verdadeiras.

As putas tinham o que dizer. Não era só encontrar, tratar do preço e trepar.

Não, as putas eram contadoras de estórias. Sempre havia um canalha que desaparecia depois que ela lhe oferecia a virgindade e um pai machista que a expulsara de casa para limpar a honra da família.

Os enredos não eram lá muito originais, mas que importância tem isto no país onde a literatura nasceu dos folhetins de José de Alencar. Além do mais existia a performance: o olhar de sofrimento sobre um sorriso esperançoso.

As putas tinham cara de puta. Existiam os símbolos, os amuletos, as cores, os patuás, o olhar era diferente, mas hoje já não sei quem é quem.

Já não sei se as putas se tornaram moças de família ou se foram as moças de família que viraram putas...

Sinais dos tempos globalizados ou finais dos tempos encantados?

Existiam as zonas de meretricio.

Locais onde experimentávamos o proibido, onde havia uma atmosfera de pecado sublime.

Lá se ouvia musica brasileira, se podia ter dor de cotovelo, sempre aparecia uma ex-chacrete-vedete-mulata-sargentelli que cantava as musicas da Bethânia e os boleros da Dolores Duram. Elas não precisavam se esfregar em tubos de ferro, nem dançavam o créu na velocidade 5 pra provocar desejo...

Eram mulheres de verdade. Putas! Porém Autênticas.

Hoje qualquer lugar é lugar...Outro dia encontrei um anúncio no orelhão em frente a Igreja da Consolação. E o mais desconsolador é que elas já não contam estórias, quase não falam. Nem cantam, nem fumam e não bebem em serviço, mas sempre que podem nos oferecem cocaína...

E eu queria apenas o encanto...

PS- TEXTO NASCIDO DA LEITURA DO TEXTO : Prostitutas da sociedade (T1540161) DE LEILA MARINHO LAGE