Caramba! Meu número da sorte mudou...
Certa vez, ao abrir o armário de meu quarto e pegar uma peça de roupa, ouvi uma mensagem de alerta: “cartorze, catorze, catorze”. Logo, adotei-o como meu número da sorte e até fiz um poema para homenageá-lo: “número da voz me disse / apesar da crença/ acredito na presença”.
Carreguei esse número por mais de dez anos, apostando várias vezes na loteria e perdendo uma boa quantia em dinheiro. Fazia isso porque tudo me remetia ao número 14: a soma das letras de meu nome, o título da última novela das oito, uma frase dita pelo diretor Alfred Hitchcock.
Bastou um fim-de-semana em Barra Bonita para tudo isso mudar. Acompanhado por minha namorada, cheguei no dia 21 de abril e me hospedei no aconchegante Hotel Vitória, a poucos passos da Rodoviária. A recepcionista entregou-nos a chave do quarto 11. Guardamos as roupas e fomos almoçar, num restaurante que oferecia rodízio de carne. Lá, sentamos na mesa 11 e fomos muito bem atendidos.
Á tarde, retornamos ao Vitória para apanhar a máquina fotográfica e tirar algumas fotos da ponte Campos Salles, que em muito me lembrava a Hercílio Luz, imponente em Florianópolis (SC). Andando pelo calçadão, similar ao de Santos (SP), apreciamos o ar puro e atravessamos a rua para dar uma espiada na feirinha, que me remetia ás boas barras espalhadas pelo Masp, em São Paulo (SP). Comprei uma caneta e uma lapiseira ao custo de R$ 3, um interessante galo que mede a temperatura e uma camiseta da cidade para minha mãe.
Fomos em frente e andamos até encontrar o pedalinho, em forma de patos, e o teleférico, que nos levou ás alturas. De ponta a ponta, da rodoviária ao teleférico, Barra Bonita mostrou-se encantadora e sua população muito prestativa ao indicar os pontos turísticos com alegria.
Á noite, jantamos na Pizzaria Pizza & Tal para participar do lançamento do livro Além das Letras, organizado pelo amigo e poeta Sérgio Grigoletto. A mesa indicada pelo garçom foi a 11. Novamente, esse número insistia em aparecer. Pedimos uma pizza de queijo e presunto, comemos petiscos e experimentamos um delicioso vinho. Bem que a conta poderia ter dado 11 reais.
No dia seguinte, 22 de abril, fizemos o tradicional passeio de barco, conhecendo a casa de D. Pedro, as eclusas e algumas músicas sertanejas, que deveriam tocar em São Paulo. Na volta, corremos até a Rodoviária a fim de comprar duas passagens, as únicas á venda. Minha namorada escolheu uma, e fiquei com a restante. Impressionante! Adivinha qual era o número da poltrona?
(*) Rodrigo Capella é escritor, poeta e jornalista. Autor de diversos livros, entre eles “Transroca, o navio proibido”, que será adaptado para os cinemas. Já adotou o 11 como novo número da sorte e espera ganhar na loteria. E-mail: contato@rodrigocapella.com.br.