Aquele palhaço era eu
Estava sentado na praça. Cabisbaixo, olhava para o chão sem fixar o lugar em coisa alguma. Não tinha consciência se respirava, se sentia fome, frio, calor... Tudo parecia vazio.
As pessoas passavam indiferentes, apressadas, ocupadas com seus compromissos... Seguiam na intenção de matar o tempo ou ganhá-lo. Quem sabe? O homem continua sentado. As horas passam... O trânsito infernal... A vida sem sentido.
Alguém passa, olha em direção ao homem que pelo semblante e postura, dá para perceber que alguma coisa está acontecendo. Ele sofre? Está triste, ou quem sabe está preocupado? Pensando em ser gentil aproxima-se e como primeiro gesto de comunicação usa uma frase para quebrar o gelo:
- Está um lindo dia, não?
O homem tristonho como que em transe, olha para aquela pessoa que dá a impressão de ter-lhe dito alguma coisa. E pergunta:
- Falou alguma coisa?
- Sim – respondeu um senhor que parecia preocupado e desejoso de fazer o bem – falei que o dia estava lindo.
- Está.
- O senhor está bem? Não quero lhe incomodar, mas percebo que está precisando de uma boa dose de alegria.
- Não fale de alegria, pois do assunto entendo eu – respondeu o homem tristonho.
O outro prestativo e com disposição para ouvir, colocou o braço sobre aqueles ombros caidos e perguntou:
- Como posso lhe ajudar? Se falar fizer bem tenho tempo para ouvir.
O homem tristonho disse:
- Ninguém pode me ajudar. Minha esposa está agora no hospital a embalar nosso único filho que está desenganado pelos médicos. Ainda ontem, quando entrei naquela enfermaria tive uma dor tão grande que precisei de força para não desfalecer diante do quadro tão triste que vi à minha frente. Meu filho tem fios por todos os lados, está respirando com a ajuda de aparelhos, e o médico espera a nossa permissão para desligar esses instrumentos que estão dando fôlego de vida ao meu filho... Agora, depende de minha permissão deixá-lo parti.
Suspira e continua:
- Há momentos que colocam na nossa mão o poder de tomar uma decisão que nos rasgará o coração de alto a baixo.
- Sinto muito – respondeu o homem comovido. Eu já estava pensando que seu caso era de amor perdido, quem sabe de desemprego, depressão... A vida tem dessas coisas. Iria lhe aconselhar a procurar um palhaço que todas as noites tem atraído multidões. Ontem mesmo estive lá, e saí com dor na barriga de tanto ri com as peraltices daquele palhaço.
O homem tristonho, olhando para seu ouvinte, as lágrimas descendo pelo rosto que envelhecera dentro de segundos, lhe deu a seguinte resposta:
- Aquele palhaço que fez a todos gargalhar horas seguidas... Era eu!
O homem olhando assombrado, disse:
- Como, o senhor mesmo disse agora que estivera no hospital, e lá tivera uma dor tão grande por vê seu filho em estado crítico?
- Tinha que trabalhar... Fiz das tripas coração. Enquanto a platéia gargalhava... Meu coração sangrava.