SÍNDROME DE MIM

Detesto sentir a respiração ofegante por conta das coisas que teimam em atropelar o meu tempo e esmagar-me com a falta dos meus momentos.

Por vezes sinto-me egoísta pela mania de priorizar àquilo que gosto de fazer. Ainda não descobri se é uma lei pessoal implantada nos idos da minha infância, ou se são as influências zodiacais que me fazem uma ariana individualista.

Só sei que me irrita correr contra um tempo que não tenho, para cumprir regras que não são minhas.

Não foram poucas as vezes que pensei em jogar todos os trabalhos formais para o alto e me mudar para a Cochinchina para viver só das coisas que anseio. Mas ainda estou aqui.

Então, preciso crer que não moro sozinha neste labirinto cheio de exclamações ordenando-me, o tempo todo, que eu faça aquilo que gosto.

Prefiro pensar que não é manifestação de uma infância tardia.

Conforta-me conjecturar que seja a maturidade precoce.

Seduz-me supor que seja sintoma de possessão inspiradora.

E mais uma vez, depois de um dia inteiro correndo – não o jogging que adoro praticar – contra um tempo escasso, sobre uma burocracia excedente, em meio a funcionários mal-humorados... Uso o resto do fôlego que me resta para subir os degraus que me trazem para este oásis que me abastece. A esta escrivaninha que tanto me apraz. A este hábito que de tudo me cura.

Diante desta Síndrome de Mim fico em dúvida se me assumo anormal ou simplesmente adoto algum nome que a todas as loucuras justifica. Será que me digo Escritora? Declaro-me Poeta? Ou batizo-me Artista?

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 16/04/2009
Reeditado em 16/04/2009
Código do texto: T1542845