Ressurreição do galo

A Olivério que me falou por alto sobre o caso.

Jonas pelas rodadas de xadrez regadas de histórias.

Estava desolado diante do galo. Tinha-o como lutador e era uma vergonha. Depois de gabar os méritos veio a desonra. Havia gastado tempo de quirela e tratamentos para com Aristeu, o galo. No começo embolsara mil reais numa luta onde o galo do Pires sentiu repugnância e desabou na areia coberto de sangue. Galo bom é galo inimigo morto. Porém foi somente um período de alegria. Toda glória dos esporões de aço e da biqueira de ouro terminara. Iria a luta entrar em nova fase? Por seu gosto sim. Iria encetar uma última chance. Depois se perdesse... O sacrifício. Seria talvez carne da miserável Mecia em busca de sopa ao filho doente. Nem necessitaria pedido de rogo como era de seu costume.

-Pelo amor de Deus, não temos o que comer seu Nunes. Nunes Monteiro era o dono do rinhedeiro. Ele sempre aceitava reduzir galo covarde em comida de Mecia Olinda. – Pelo menos servem para alguma coisa, dizia -. Na verdade todos estavam de acordo nesse ponto: galo covarde, sopa de Olinda.

Ainda se não houvesse dado perdão jamais teria passado vergonha. Não deixando de sentir “repugnâncias” para não lhe dar clemência. Torceria o pescoço do infeliz e pronto! Arremessaria o jururu no mato do quintal para perto da cerca de varapau. Caso voltasse vivo ele mesmo faria o serviço.

A luta estava marcada. O dia sanguinoso seria na primeira segunda feira de janeiro. Tarde de sol a pino. Não precisava de imparcialidades na cizânia com o velho Pires. Os galos do Camargo eram para vigário botar no altar de tão chorões. Isso ele mesmo havia dito ao Pires Camargo explicitamente. Ganharia um dinheiro razoável das apostas e depois festejaria o aniversário do guri com churrasco de carne de ovelha.

Volrtou para casa depois da luta com Aristides moído e ensanguentado debaixo do braço. Fervia de ódio. Cada esporada com intermitências em torno do inimigo fazia a platéia urrar de euforia, Dava para ver Paraguaçu, antigo marceneiro sem mãos (havia perdido tentando cortar corda grossa com serra de disco) levantando os braços a cada esporada no cerco da platéia estrepitosa. E, sobretudo, começou bem o embate, até Aristides girar em círculos na arena; deistindo dos ataques, entrando em fuga no meio da luta acirradíssima. Havia chegado a sua vez pelo destino do fracasso. Atravessou a casa escravizada pelo fanatismo do jogo. Foi até o quintal. No quintal torceu o pescoço do galo como o planejado. Arremessou o lutador moído e ensanguentado no carrascal de espinhos do mato perto do varapau.

Em meio à roda de parentes boquiaberta, estava tomando mate no aniversário do gurí e ouvindo histórias do delegado Cipião sobre os crimes do mar; quando viu aterrado, surgir do mato vivo o galo curado dos destinos da maldade. O grande guerreiro havia lhe ensinado a nunca mais contrariar a natureza.