O MORRO DOS ADMIRADORES SECRETOS

Marília L. Paixão

Eu tenho uma admiradora secreta e esta crônica vai para ela. Mas vai para ela só se ela descobrir quem ela mesma é. Vai saber se eu tenho mais de uma admiradora secreta e não sei?! Você deve estar pensando que hoje é o meu dia de rir ou dia de achar que estou no alto. Bem que eu costumava estar, pois já morei no sétimo andar e se pensar bem direitinho ainda moro no alto de um belo morro. Deve ser esta uma boa explicação para o meu alto astral. Vai ver que é pois não morro de medo de alturas.

E aqui vou eu subindo mais um pouco mesmo tendo voltado um pouco atrás no tempo. É que andei lendo velhos jornais dos dias da semana santa. É... Eu faço isso. Coloco os jornais velhos em ordem e vou lendo o que dá tempo. Faço de conta que o hoje não é hoje, que o hoje é aquele dia lá do jornal. Foi assim que li artigos interessantes. Li o Ferreira Gullar reclamar da lei anti fumo. Não fumo, mas li assim mesmo. Depois o li reclamando do desaparecimento de clínicas psiquiátricas que deixaram os pobres a ver navios com seus familiares virando mendigos por falta de lugar para se protegerem da própria loucura. Em seguida li o Drauzio Varella denunciando a falta de serviço de saúde pública para os homens que são mulheres: os travestis. Ele disse que de todas as discriminações sociais a mais pérfida é dirigida a eles. Fui direto ao dicionário eletrônico para ver de perto a palavra pérfida e descobri que a sociedade é desleal, falsa e traiçoeira com essa minoria de homens.

Agora vamos voltar para o dia de hoje, pois quem sabe minha admiradora secreta não vai gostar de assuntos pesados assim. Quem é ela, quem é ela, quem é ela? Será que ela está rindo de mim? Vou confessar umas coisas da minha admiradora secreta. Ela é muito inteligente, mas carrega uma weapon. É arma gente! Weapon é arma. Eu gosto dela por que ela me aponta sua weapon com um sorriso cheio de beleza nos lábios cheios de batom e fala dos meus textos que gosta ou desgosta bem na minha cara sem anonimato algum.

Eu olho para ela e digo: Você não atiraria em mim, atiraria? Ela então me sorri com cara de sim e eu continuo sorrindo por não acreditar. Minha admiradora secreta nunca iria me matar. Sabe por que eu sei? Que não é por viver nas alturas que eu chegaria a um John Lennon. Como eu tenho a cara de pau de dizer isso a ela e ela ri mais ainda de mim enquanto ajeita os dedos no gatilho e finalmente puxa e eu vejo o tiro saindo e bolinhas de sabão subindo e então continuamos rindo.

Não é que este parágrafo me levou a momentos especiais do filme Beleza Americana? É...Hoje eu estou me achando. Achando até que consigo escrever paisagens lindas. Devemos estas sensações ao morro de admiradores secretos que temos. Nós temos! Temos muitos admiradores secretos. Temos até admiradores que nos copiam silenciosamente. Outros deixam-se inspirar pela apreciação de uma forma boa e interativa.

Pois é gente, minha admiradora secreta disse que estava carente e me pediu uma crônica especialmente para ela. Eu fiz. É esta ai! Espero que ela goste ou caso contrário eu desço do meu morro e morro de verdade para ver se consigo colocar mais sorrisos nos lábios dela. Pois não tem nada que nos deixa mais felizes que sermos admirados.