O QUE ME AFLIGE HOJE SE TRANSFORME NO ONTEM

Se você me perguntasse por que eu escrevo, recorreria à Clarisse Lispector para lhe responder: "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada...

Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas.

A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Concordo com a Clarisse e parto para o intimismo. Sempre que me vejo supostamente envolvida em conflitos, me entrego às lucubrações de caráter existencial, e por ser uma crítica severa de mim própria, sempre descambo para uma auto-análise buscando no meu comportamento a coerência que deve prevalecer entre o pensar, sentir e agir. E por que o faço? Talvez por medo. Medo de uma tal co-dependência, que a ciência explica como uma necessidade imperiosa em controlar coisas, pessoas, circunstâncias/comportamentos na expectativa de controlar suas próprias emoções. Esse medo faz com que eu viva em constante vigilância, não quero me tornar uma co-dependente, nem tampouco refém das ações que formam sua síndrome e que consistem em baixa-estima, dificuldade de colocação de limites; dificuldade em reconhecer e assumir a própria realidade; dificuldade de expressar suas emoções de forma moderada, mesmo que se sinta ligada a outrem por amor, dever e obrigação.

E assim, na esperança de que, o que me aflige hoje, se transforme no ontem, fico por aqui na expectativa de continuar mantendo a minha independência e ser sempre eu mesma.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 16/04/2009
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