O escritor mineiro Otto Lara Resende, falecido em 1992, escreveu a seguinte frase: "Devemos a Graham Bell o fato de estarmos em qualquer lugar do mundo e alguém poder nos chatear pelo telefone”.
Navegando na Internet, li que Graham Bell não foi o inventor o telefone, mas sim um italiano chamado Antonio Meucci. Controvérsias à parte, será que o criador ficaria envergonhado com o destino que andam dando à sua criação?
Dia desses, eu encontrei , por acaso, dentro de um self-service, uma conhecida com a qual trabalhei há alguns anos.Emendávamos um papo cordial até que o telefone celular dela começou a tocar.Era a filha adolescente.Nunca vi ninguém falar tão alto ao telefone.Por um segundo tive a sensação que a garota levaria uma surra ali mesmo...Mas aí a minha ficha caiu: ninguém leva uma sova via ondas curtas!
Por falar em ficha telefônica, elas se tornaram obsoletas no uso de ligações em orelhão (telefone público).Só a expressão linguística ainda continua em uso.Ela significa que houve entendimento de algo que estava obscuro em nossa mente:
- Está tudo bem com a sua filha?- perguntei quase surda.
- Essa menina ainda me mata de desgosto! Você acredita que...(blábláblá, blábláblá...)...Entendeu agora o motivo do meu nervosismo?
- Sim, claro...Caiu a minha ficha!
Voltando aos celulares, muita gente comete gafes em nome dele.Um exemplo recente foi o do o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, que preferiu continuar uma conversa telefônica a avançar na direção da chanceler Ângela Merkel que o esperava sobre o tapete vermelho para cumprimentá-lo.Hor-rí-vel!
Não me esqueço também de um episódio peculiar quando meu marido e eu estávamos assistindo a uma peça teatral.No meio do espetáculo, o telefone celular de uma moça na plateia começou a tocar insistentemente. O ator, sem perder a compostura, disse ironicamente ao colega de cena:
- É o melhor desligar seu celular, pois estamos na década de 50 e ele ainda não foi inventado!
A moça, envergonhada, saiu do teatro e não voltou mais.A ficha dela deve ter caído.
Quando o celular começou a se popularizar há alguns anos, tornou-se em pouco tempo sinônimo de status.Virou acessório de exibição. Há quem afirme que não vive sem o seu.Eu só não vivo sem oxigênio mesmo! Vivo esquecendo de por o meu pra carregar!
Uma vez um colega de um curso resolveu me apresentar fotos que ele havia tirado de seu namorado pelo celular.Botou o aparelho em minhas mãos e foi dizendo:
- Clica aqui que as fotos vão passando!
Não tive como recusar.Até pedi que ele me mostrasse as imagens, mas ele fez questão que eu manuseasse o telefone. Fui apertando o botão e ele me explicando onde eles estavam na foto e coisa e tal...Até que o inusitado aconteceu: apareceu uma foto do “cara” completamente nu em uma cama.Foi constrangedor.Para mim e para ele.
Tem gente que estabelece uma relação de afeto com seu:
-Puxa,ninguém me telefona!
Parece que a pessoa vive cantado a letra de música dos "Sambabacas", aquele grupo fictício de pagode criado pelo "Casseta e Planeta":
" Liga pra mim
Meu coração
vai te pegar
Se tu não vem
Eu vou chorar
Liga pra mim!"
De presídio eu já recebi telefonemas, quando eu ainda não tinha filha:
- Tamu cá tua filha, se não colaborar a “gente matamos” ela!
-Essa menina anda mesmo muito malcriada, moço.Pode matar , por favor.-respondi séria, desligando a seguir.
Não há coisa mais irritante, hoje em dia, que um celular tocando em momentos inconvenientes; é lamentável ver a criminalidade aumentar por conta de uma invenção tecnológica que foi planejada para o bem! Einstein tendo visto a tragédia provocada pela bomba atômica, disse a seguinte frase: “Tudo havia mudado, menos o espírito humano”. "A-lôou", será que isso se aplica também ao uso inadequado dos celulares?
(Maria Fernandes Shu – 16 de abril de 2009)
Pelo celular