O CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA - III

A fila nos levou até a entrada do túmulo de São Tiago, o apóstolo. Não tão rapidamente, porém, porque, muito comprida, serpenteava vagarosa por entre o tumulto de muita gente indo e vindo. Além do mais, comprovei mais tarde, a entrada do túmulo era estreita e alta, sendo preciso subir alguns degraus para alcançá-la. Quando de nossa vez, ao adentrarmos no local surpreendeu-nos a repentina e inesperada presença de um monge sentado no estreito recinto, as mãos cheias de santinhos, ao lado do busto de Tiago, circunspecto e todo cerimonioso. Ana olhou para ele meio assustada esboçando um sorriso decerto constrangido, mas o religioso endureceu o olhar e disse algo ríspido, eu entendi uma ou duas palavras do seu sotaque galego, ao contrário de Ana que olhou para os lados, tornou a sorrir - eu sorri também -, arrancando do religioso um suspiro de enraivecimento, tanto que prosseguimos túmulo adentro sem dele recebermos o santinho distribuído aos visitantes.

A enorme construção, com mais de oito séculos nos costados, dividia-se em diversos compartimentos, cada um com sua própria história e característica, destarte nada fácil de ser visitada em seu todo em tão pouco tempo. Vinha o momento do almoço, por outro lado, ademais ainda haveríamos de explorar as redondezas em busca de restaurantes, a chuva continuava a cair, não conhecíamos aquele labirinto, uau!, uma série de questões nos impeliram ao corredor de saída. A velhinha que esmolava à porta continuava lá entregue aos lamentos numa ladainha incompreensível, a mão estirada no indefectível gesto de pedir, completamente coberta da cabeça aos pés, de fora somente os espertos olhinhos.

A saga da procura por um restaurante ao nosso gosto, onde não fosse permitido fumar(em quase todos eles as pessoas podem fumar à vontade, há placas informando logo à entrada dos estabelecimentos) durou uma eternidade. Mormente por causa da chuvinha renitente e perturbadora. Sob o simples abrigo de uma sombrinha comprada à saída da Catedral, entrávamos em ruelas, descíamos e subíamos ruas com piso irregular, salpicados pelo toró interminável e nada de encontrar local para não fumantes. Optamos, ao depois de tanto perambular, por um onde não avistamos a malfadada plaquinha dando conta ser próprio par fumantes. A vitória mostrou-se efêmera ao entrarmos, pois o tal aviso, em destaque, fora colocado justamente no salão das refeições. Decepcionado, fiz menção de sair e continuar o périplo lá fora, mas como o lugar estava vazio e Ana sugeriu-me ficar ali mesmo por causa da hora e do mau tempo, acatei a sugestão e sentamos. Tratando-se de estabelecimento onde poderiam fumar à vontade, durante toda minha estadia fiquei tenso ante a possibilidade de alguém acender um cigarro e soltar baforadas a torto e a direito. Graças a Deus isso não aconteceu apesar das muitas pessoas que chegaram depois e de nós e quase encheram o restaurante. Deliciamo-nos saboreando um prato típico da região: Lubina à prancha.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 16/04/2009
Código do texto: T1541723
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