Quem fica com as rosas?
Havia uma certa ordem no caos. As calcinhas, por exemplo: João sabia que as pretas, verdes, azuis e lilás pertenciam à Meire. Qualquer outra cor era de Sônia, menos as rosas, é claro. É que era a a cor preferida de ambas, conseqüentemente nenhuma abria mão de ter que usar a peça íntima de sua cor favorita. Depois da décima briga entre as duas causada pelo uso por engano, mas indevido, da calcinha da outra, João perdeu a paciência. Encostou as duas na parede e intimou-as a tomar uma decisão. Quem fica com as rosas? Aprendeu pela septuagésima vez que não se enfrenta duas mulheres de uma só vez, pois o acuado foi ele: perguntaram-lhe qual delas fica melhor de calcinha rosa? No seu íntimo sabia que era Sônia, pois tinha a pele branquinha, meio rósea, combinando com o tecido. Meire era da raça negra, um belo exemplar, por sinal. Mas João não podia tomar partido e deixar Meire desgostosa, isso poderia provocar conseqüências drásticas na manutenção do relacionamento. O voto de minerva não poderia ser mais sensato: no dia seguinte uma mendiga saía exultante com as trinta e seis calcinhas rosas achadas num saco de lixo em frente ao Edifício Alvorada. A cor preferida de Meire se tornou a branca e a de Sônia, a preta.