Servido em Bandeja
Colocou a pasta sobre a mesa. Raspou o primeiro cartão: nada! O segundo: também nada! “Hoje não é o meu dia de sorte”, pensou. Num ímpeto, jogou fora os cartões e vacilante, anunciou o assalto retirando da surrada mochila um revólver de brinquedo:
- Passe a grana, mocinha! Isso é um assalto! Se não levei o dinheiro do jeito de vocês, agora levo do meu jeito! Rápido! Passe tudo pra cá!
A atendente, em pânico, repassou as notas, cheques e moedas provenientes do faturamento do dia, rezando para que aquele pesadelo acabasse logo. O assaltante saiu em disparada, agarrado à mochila e às esperanças de uma vida melhor por algum tempo. E assim foi. Literalmente...
O displicente garçom, tragado por fatores sociais ao posto de bandido, no auge do seu desespero, após procurar em vão por emprego, resolveu cometer aquele crime. Como na sua verdadeira profissão, o garçom serviu-se em bandeja aos policiais, esquecendo sua pasta com vários currículos sobre o balcão da lotérica roubada, o que delatou imediatamente o autor do delito.
Ao chegar a sua casa, a polícia já o esperava, afinal, ele ainda viera de ônibus, com o dinheiro roubado na sua surrada mochila. Só então deu por falta da sua pasta, da sua dignidade e da sua liberdade.
(Sergio Silva, in Vim, vi e Escrevi, 2006)