O CHILIQUE...
Se olhar-mos no dicionário veremos que a definição desta conduta nada mais é do que uma ação nervosa. Não creio que seja apenas isso, até porque no meu entender a pessoa que tem só um surto nervoso, pode demonstrar apenas ansiedade e insatisfação, mas nem por isso ridicularizar-se num meio social. Já no chilique a pessoa sempre está se expondo demasiadamente no meio social como um todo, já que essa ação transborda do ordinário, tendo em vista o avanço demasiado da conduta, por extrapolar os limites médios impostos naturalmente a uma pessoa (como conduta) no meio em que vive e acaba levando-a ao ridículo.
Assim, o chilique não se traduz apenas num lance de nervosismo, mas numa necessidade da pessoa se fazer notar. Ou melhor, a pessoa que costuma agir dessa forma utiliza do seu estado emocional para mostrar sua outra face, que é aquela escondida nos recônditos da moralidade do meio social, pois sempre que alguém age de forma extraordinária e que não combina com uma conduta normal das pessoas, aquele que ousar divergir dessa paz de comportamento, irá cair no vexame e na contestação coletiva. Esse é o chilique, que transborda vexame e que traz uma imagem contestável a quem age dessa forma.
Notadamente, são poucas as pessoas que se entregam a esse desvio de comportamento e que se expõem perante a opinião pública, através de comportamentos ridículos, através de uma manifestação íntima inadequada com determinados lugares e determinados ambientes. Assim, tem um chilique aquela esposa que varada de ciúme transforma um ambiente sereno numa guerra pessoal e acaba incutindo naquele local uma idéia de horror, fazendo com os presentes fiquem estupefatos e surpresos, considerando que não é normal que alguém chegue em público e exponha toda sua raiva e sua intrangência sobre assuntos que deveriam ser discutidos num ambiente privado e entre as pessoas que tem interesse na contenda.
Acredito que não há ninguém na face da terra que aprove um chilique. Ou melhor, ninguém aceita ser personagem de algo que não tem valor como substância do ambiente usurpado. Assim, se muitas pessoas estão numa festa, homenageando alguém e de repente aparece um penetra ou uma penetra que chega para transformar o objetivo daquela reunião, interferindo na sua essência, apenas para apartear um objeito individual e intransigente, todos irão recriminar a interferência, pois a ninguém interessa os desleixos de uma pessoa mal-educada.
No entanto, para alguns, hão de surgir a sensação de piedade, pois aquilo que é ridículo causa pena, já que o personagem está sendo atingido na sua figura pessoal com uma mancha negra que jamais se apagará da memória de quem presenciou algo tão inesperado e grotesco. Destarte, a primeira impressão é que a pessoa precisa de ajuda e de acompanhamento psicológico, já que há entre nós o chamado equilíbrio intrínseco, do qual necessitamos para não ultrapassarmos a barreira do bom senso, considerando que nem sempre podemos agir como queremos. Em determinados momentos devemos acionar nossos mecanismos de reserva e com isso pisarmos no freio para não corrermos o risco de atropelar os fatos.
Agir com urbanidade e com serenidade em determinados momentos, muito nos custa. São os chamados instante em que temos de “engolir sapos”, como diz o provérbio popular. Mas isso é necessário e humano, embora no nosso íntimo estejamos explodindo e querendo “rodar a baiana”, como diz o ditado. Mas um filósofo em relações humanas disse uma vez, que devemos mais ouvir do que falar, diante de um conflito iminente. Concordo em parte com isso, pois entendo que no início é que devemos ouvir muito, para, depois, quando a maior parte tiver falado tudo o que lhes aprovier, chega a nossa hora e, aí, sim, poderemos expor com muito mais convicção o nosso ponto de vista, pois teremos colhido todos os subsídios da discussão, pois estaremos prontos para debater todos os pontos da polêmica, por entender o que todos pensam e o que todos almejam.
Assim, o chilique é um mal que se apossa numa pessoa de índole passional, levando-a ao ridículo. Para mim essa é a melhor definição. Quem, por acaso, possui comportamento análogo, que procure algum profissional da área psicológica para tratamento, pois a sociedade não tolera e não aceita pessoas que façam escândalos públicos, como forma de mostrar seu inconformismo com algo pessoal. Para a comunidade como um todo são indirentes os problemas individuais de cada um. Cada pessoa tem seus direitos reservados na Carta Magna e devem procurar defendê-los da mesma forma que a legislação permite. Do contrário, irá incorrer num caminho inverso que só lhe trará maiores traumas e maiores cosequências a nível pessoal.