...O AMANHÃ, O ANO QUE VEM, O PRÓXIMO SÉCULO...

É compreensível a urgência dessa juventude que nos rodeia, afinal, me perdoem a frase feita, amanhã nunca se sabe. A chuva veio outra vez e nos devolveu de uma só vez tudo que depositamos no solo não fértil que pisoteamos apressados todos os dias. Aquele casal que abandona o carro em meio a correnteza do rio súbito que se formou em minutos não é aquele mesmo que ontem despejava pela janela do carro aqueles papéis inúteis que se acumularam no assoalho? Já sei, a solução, ano que vem, quando perto da temporada das chuvas, será sair caçando os entregadores de papéis que ficam o dia todo pelos semáforos da cidade condenada. As garrafas de plástico descem pelas enxurradas como se fossem navios fantasmas, enquanto as crianças sorrindo em meio àquela água toda não harmonizam com o choro dos pais retirando a lama de dentro de suas casas. Será que nunca vamos conseguir enxergar que dia após dia estamos socialmente nos mutilando? Até quando vamos continuar nos anulando progressivamente em nome de uma inconsciência que até parece uma doença? O casal voltou para contabilizar os prejuízos do veículo, Os pais estão sentados na calçada com expressão exausta e as crianças, elas ainda estão sorrindo como se tudo fosse apenas um dia divertido entre tantos outros. Ainda deve haver esperança, eu que já não sou tão jovem, me lembro da canção... tomorrow never knows...