Por traz do vidro...
E se chove lá fora, não posso sair, não posso sair se aqui dentro ta seco, quente, tranqüilo.
Aproveito e saio com os olhos, sem me molhar, mas mergulho nas gotas escorridas pela folha verde.
Sinto a umidade presente sem me molhar, afinal não sou planta, apesar de ter criado raízes.
Estou estático, mas corro feito montanha russa acompanhando uma gota que desliza sobre a folha na chuva.
A sensação da velocidade embora parado passe meu movimento imaginário.
O frescor das gotículas por onde passo e a velocidade aumenta, embora o chão tarde a chegar.
Assim é essa chuva que aqui habita, por onde percorre, faz se presente, inocente, corredeira, uma cachoeira é assim que se forma, basta altura, junção das águas, o resto fica com a habilidade da força da gravidade.
Assim é o mundo das águas, águas que lavam, águas que invadem, que levam de mim, uma lágrima.
Foi o tempo, lá traz podia sorver em prantos, hoje nos cantos, a repensar.
Chove lá fora e eu me olho, olho por sobre a imagem que o vidro me mostra, uma inigualável, proporção de vazio, mas uma riquíssima paisagem que se forma na retina, feito cortina desse dia chuvoso.
Assim vejo as águas que invadem a terra, feito faca na carne, impiedosamente atirada.
Assim são as gotas que somadas, formam essa torrencial e derradeira cascata.
Esse som, ah, esse som, é incomparável, tem uma orquestração inigualável, descompassada, apressada, conforme a força do vento que exerce fundamental presença.
Apesar de não vê-lo apenas senti-lo na baixa temperatura que se faz presente.
Assim, chove lá fora, calmamente, molha tudo e a todos que se atrevem enfrenta-la.
Menos eu que vivencio apenas pelo olhar por traz do vidro da janela de vidro.