Eu Não Dou Uma Dentro (humor - causo)
Há alguns meses, reencontrei um amigo que não via há tempos.
Feliz em revê-lo, dei-lhe um forte abraço, cuidando, claro para não sujá-lo de batom. E o alertei:
- Cuidado! O batom! Sua esposa te pega, depois.
Para minha surpresa ele respondeu que não tinha perigo. E segredou-me que estavam se separando. Fiquei meio sem jeito... Perguntei como ele estava, perguntei pelas crianças... Depois, dei um jeito de sair de fininho.
Esses dias fui a uma festa. Sentei-me numa mesa com alguns colegas e falávamos sobre casais formados ainda na faculdade. Meu marido foi meu colega na Católica, embora nosso namoro só tenha acontecido muitos anos depois. Mais dois dos casais à mesa também confirmaram ter iniciado seu relacionamento nos bancos de escola. Um outro amigo, porém, que estava sozinho conosco manteve-se alheio à conversa. Para enturmá-lo, puxei assunto:
- E você Otávio? Você e Helen também se conheceram na faculdade, não foi? Aliás... cadê ela? Ficou cuidando dos meninos?
- É... Mas... Bom... Nós estamos nos separando.
Pensei comigo: puxa vida! Duas gafes quase seguidas? Fiz-me de vítima:
- Minha nossa!! Não dou uma dentro!
E já emendei a estória do outro amigo.
Ele riu. E foi a vez dele enfiar os pés pelas mãos:
- Você não teve culpa.
Aproveitei para virar o ônus do vexame:
- Claro que não! Tá doido? Não fala um negócio desses nem brincando.
Rimos ambos e o assunto morreu ali.
O engraçado é que eu sou meio cuidadosa com isso. Vivemos em tempos de “casa, separa, casa, separa, casa, separa”, como diria o Jô Soares quando ainda era humorista e encerrava o quadro do padre afirmando: “io no caso!”. E, sendo assim, ao encontrar desacompanhado alguém que não vejo há tempos, sempre evito entrar nessas questões. No caso do primeiro amigo eu realmente pisei na bola, mas sabe aqueles caras que parecem que vão viver casados para sempre? Pois é. Já o outro, foi ainda pior. Eu o vejo com a futura ex-esposa quase que diariamente. Os dois vão juntos para o trabalho e tal... Como adivinhar?
Agora aprendi a lição. Até que meu interlocutor introduza sua cara metade na conversa, pra mim todo mundo é solitário e triste. Nem pelas crianças pergunto mais. Aliás, não pergunto mais nada. Para explicar por que, encerro com uma piadinha. É humor negro. Não diga que não avisei.
“Dois amigos encontram-se na rua e um pergunta:
- E aí, cara? Quanto tempo!? E a Ferrari nova?
- Maior azar. Bateu. Perda total!
- Ainda bem que tem seguro...
- Nada! Pisei na bola. Esqueci de pagar.
- Bom... você tem um empregão. Logo compra outra...
- A firma quebrou. Tô na rua.
- Ah! Dinheiro é o de menos. Você tem a sua mulher para te consolar.
- Ela estava dirigindo o carro.
- Pelo menos lhe deixou aquele filho lindo pra te alegrar.
- Ele estava no banco do carona.
- Caramba! Você não tem nada de positivo para me contar?
- Tenho. HIV.”