"A DECADÊNCIA DO RISO"

Este título não foi criado por mim, tomei por empréstimo a Eça de Queiroz, que escreveu no ano de 1891, na Gazeta de Notícias, um texto como Pensamento/Reflexão, onde ele declara: “o riso acabou porque a humanidade entristeceu. No campo pessoal eu não diria: “a humanidade entristeceu”, mas sim: eu é que estou triste. Por que penso e complico a minha existência e me deixo levar pelo EGO? (consciência inferior) ao invés do EU? (consciência superior) Só espero que nessa dança do EU/EGO/SUPEREGO/ID, o meu EGO não queira satisfazer o ID à revelia do SUPEREGO pois assim agindo me levará ao desespero e se eu não me submeter ao mundo serei destruída por ele. Doutor Jung, que me ajude. Mas, diante dos meus “dissabores”, como posso “por ventura cada amanhã, afrontar o Sol com uma singela alegria?” Eça diz que não pode e explica: Entre eu e o Sol está o negro cuidado que me estende uma sombra na face, me mata nela, como a sombra sempre faz às flores, a flor de todo o riso.

Não, eu não poderia encerrar este texto sem explicar com palavras de Eça, o porquê, de vez por outra, me ver acometida de “surtos de tristeza”, que acredito ser, simplesmente, porque sou um ser que pensa e constantemente, pelo fatalismo da educação crítica, busco a realidade através das aparências, tais como as que se seguem:

Sobre o céu? No céu só vejo uma complicada combinação de gases,

Sobre a alma? Na alma só descobri uma grosseira função de órgãos,

Sobre a lágrima? Na lágrima só uma porção de fosfato de cal

E diante de dois olhos resplandecentes de amor? Só penso nos dois buracos da caveira que estão por trás,

De todo o sacrifício heróico? Imagino logo um motivo egoísta,

Por que caminho? Não sei, se a cada passo perco um sonho.

Sabes para onde vás? Não, não sei para onde vou, nem tampouco sei quem sou –

Por isso e por muito mais NÃO POSSO SER SENÃO UMA TRISTE!

Porca miséria! Quanta lamúria! Ô Maria Olímpia, ( a rede está te esperando) você que entende das coisas, diz ai se estou enveredando pela linha “trash” ou seguindo as pegadas de Augusto dos Anjos, de quem publico o soneto que se segue :

ETERNA MÁGOA

O homem por sobre quem caiu a praga

Da tristeza do Mundo, o homem que é triste

Para todos os séculos existe

E nunca mais o seu pesar se apaga!

Não crê em nada, pois, nada há que traga

Consolo á Mágoa, a que só ele assiste.

Quer resistir, e quanto mais resiste

Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.

Sabe que sofre, mas o que não sabe

E que essa mágoa infinda assim, não cabe

Na sua vida, é que essa mágoa infinda

Transpõe a vida do seu corpo inerme;

E quando esse homem se transforma em verme

É essa mágoa que o acompanha ainda!

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 14/04/2009
Reeditado em 14/04/2009
Código do texto: T1538117
Classificação de conteúdo: seguro