Épocas de dificuldade
Eu estava providenciando a documentação e os exames médicos para a admissão em um novo emprego, fruto de uma aprovação em concurso público.
Alguns exames puderam ser solicitados pelo meu médico mesmo, sem que eu tivesse custo. Outros, não. Eram necessários então dois formulários: o dos exames autorizados e o dos exames para que fazer o pagamento.
Eu estava na fila para pagar o custo operacional. Enquanto esperava, olhando o formulário, fiquei imaginando quanto teria que pagar. Imaginei que pudesse ser tal como o custo operacional do convênio para uma consulta médica, 45 reais.
Nesse momento, imaginei-me em um quadrinho de gibi. De um lado, um capetinha me atentando: “Seu bobo! Por que você mesmo não preencheu o exame que faltava no espaço em branco do formulário dos exames autorizados?”
Na mesma hora, surge o anjinho do outro lado e me tranqüiliza: “Nananina-não! Você fez bem, a desonestidade não vale a pena!”
Neste caso, pensei, minha honestidade me custaria pelo menos 45 reais. Mas e se fosse mais caro ainda? Não tinha nem idéia do que seriam aquelas letras que se referiam ao exame...
45 reais – muito pouco para o preço da honestidade, muito caro para mim naquele momento... Acho que simplesmente acrescentar um exame entre outros aprovados não seria tanta desonestidade assim, seria? E se houvesse um sistema que detectasse que aquele exame não havia sido solicitado pelo tal médico? Bobagem, coisas da cabeça de uma pessoa acostumada a só andar na linha. Mas já não havia mais escolha, a fila andava, minha vez de pagar estava próxima.
Antes de mais nada, fui perguntando ao atendente o preço do exame. Porque dependendo, eu não teria o suficiente para pagar. É... época de dificuldade é assim...
Quando ouvi a rouca resposta “seis reais”, não acreditei nos meus ouvidos. Perguntei de novo. E a resposta foi mais sonora e clara para minha tranqüilidade financeira. Saí feliz e tranquilo, de consciência e de bolso.