SOS! Fui roubada!
Apesar de estarmos em pleno século XXI, preocupa-me ainda descobrir que existem pessoas inocentes, crédulas, e ingênuas além da conta. A história que escrevo é verídica e até hoje me custa acreditar que conheço essa figura que passo agora a relatar abaixo.
Judite é o nome da coitada que teve seus documentos e uma quantia em dinheiro, surrupiados bem debaixo do seu nariz. Ela me liga para contar o ocorrido, estava preocupada, mas confiante de que tudo ia terminar bem. Pedi que prestasse bastante atenção nas atitudes que deveria tomar. A primeira delas era que deveria prestar uma queixa. Segunda, cancelar os cartões.
Ela me ouviu, e saiu com essa:
- Não preciso fazer nada disso! Eu me fiz de durona, fingi que já sabia quem tinha feito o estrago e fi-los saberem que daria um prazo pra que me devolvessem o que tinham me roubado. Se não iria tomar uma providência! Falei grosso mesmo.
Não acreditei no que estava ouvindo. E disse o que pensava:
- Judite, com marginais não se brinca. Deixe de brincar de ser sabida e faça o que estou lhe dizendo.
Ela parou um pouco, e pareceu-me que daria ouvido. Despediu-se e achei que tudo estava encerrado.
Dias depois ela chega com aquele vozeirão, dizendo:
-Eu não lhe disse que iria dá certo a minha tática? Chamei os dois na minha casa, conversei cara a cara com eles, disse o eles que precisavam ouvir e fui ate a cozinha fazer um café.
Piscou-me um olho e acrescentou:
- Era a desculpa que eu dei.
Ela parecia um detetive narrando sua esperteza no ramo.
- Enquanto isso eles procuraram por toda a casa e dentro de pouco tempo um deles gritou: Achei, tia! Achei seus documentos e o dinheiro!
Fiquei de queixo caído. Meus olhos devem ter falado muita coisa, mas ela não entendia o quanto tinha ficado exposta ao mal.
- Você permitiu que as mesmas pessoas que tinham lhe roubado, entrassem na sua casa para lhe ajudar a achar o que eles mesmos tinham passado à perna?
Ela, com aquele jeitão de menina, respondeu com a maior inocência:
- Sim! E consegui o que queria.
Lembrei daquele personagem chamado Quico,que como Judite vivia fora da realidade.
- Judite, você ficou sozinha com esses homens?
- Sim, mulher, fiquei... Ramiro precisou ir até a casa dele, pegar umas coisas, mas foi por pouco tempo.
Ramiro é seu irmão de quase setenta anos. Judite tem um filho deficiente, que tem trinta e quatro anos e tem reações de uma criança de quatro anos. Pensei com meus botões: tanta inocência, meu Deus! É por isso que acontece tanta desgraça nesse mundo, pois muitas vezes facilitamos e os que estão à espreita aproveitam sem dó.
Judite continua sua vidinha. Acredito que Deus é quem tem guardado pessoas como essa minha amiga. Meu desejo é que sejam poupadas de tanta maldade, porque na hora H não adianta pedir por piedade ou gritar por socorro.