TESTEMUNHA DE UM ASSASSINATO
Pelo título exposto, a primeira impressão que dá é que se trata de algum livro ou filme, enfim de alguma história narrada magistralmente pela renomada escritora Agatha Christie. Mas, não o é. Trata-se de caso atípico que tive a desventura de presenciar à minha revelia, diga-se de passagem.
Como de costume, naquele fatídico sábado ensolarado, fui à casa lotérica do meu bairro cumprir algumas obrigações e também fazer uma “fé” em alguma loteria, por que não? Logo que cheguei ao local, até fiquei contente, pois a fila não estava muito grande, o que significava que logo eu regressaria para a minha pequena banca de jornal, onde nesse ínterim, ficou a minha filha de apenas 15 anos, que por sinal, não gostava de ficar lá sozinha, com toda a razão.
Paguei as contas, fiz o jogo. Quando saí do guichê e estava guardando a papelada na carteira, percebi um elemento pulando a divisória de vidro, enquanto outro meliante que estava postado na porta do estabelecimento empunhando uma arma, mandou que todos ali se deitassem. A tal "ordem" foi obedecida, incontinenti. No mesmo instante os tiros ensurdecedores começaram no interior da casa lotérica. O susto foi tão grande que qualquer um ali só pensava que se tratava de um assalto com final trágico. Foi tudo muito rápido.
Feito o “serviço” o que tudo indicava que foi uma vingança premeditada, o assassino saiu correndo com o comparsa, antes porém, jogando no chão da casa lotérica onde estávamos deitados a arma do crime. Vendo aquilo, levantei-me rapidamente, peguei a minha carteira que tinha ficado sobre o balcão central e saí tremendo com o coração totalmente descompassado. Fiquei tão atônito que, ao invés de atravessar a avenida e ir pegar a condução de volta para o meu aconchego, fiquei andando na calçada ao lado para cima e para baixo. Muitas pessoas correndo e comentando ao mesmo tempo o lamentável acontecimento, mas eu não conseguia captar nada e pouco me interessava.
Aquele local logo foi invadido por uma multidão de curiosos tentando descobrir o que realmente acontecera.Logo em seguida a polícia também chegou para fazer a ocorrência. O que se comentava é que se tratava de um assalto e o crime ocorreu porque houve reação. Quando na realidade não foi nada disso. O bruto e estúpido assassinato aconteceu por pura vingança. Segundo pessoas que conheciam muito bem a vítima, tempos atrás, quando uma dupla tentou realmente assaltá-lo no mesmo local, ao pressentir tal ato covarde, sacou sua arma e atirou primeiro em um dos ladrões, o qual veio falecer logo em seguida. Naquela ocasião, o comparsa ao socorrer o colega ainda teve tempo de deixar bem claro ao proprietário da casa lotérica: “Você não perde por esperar, cara! Já pode se despedir da sua família!”
Infelizmente o dito cujo não levou a sério a ameaça do bandido e continuou trabalhando como se nada tivesse acontecido. Passado algum tempo, aquele mesmo bandido arrumou outro comparsa e veio cumprir o que prometera, mandando aquele homem para a cidade dos pés juntos, deixando a família e empregados sob a proteção de Deus.
Particularmente, jamais pensei de ficar tão próximo de uma cena trágica como essa. Mas infelizmente ninguém está isento da violência que assola o mundo. Salve-se quem puder!
João Bosco de Andrade Araújo
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