"NÃO TENS QUEM FAÇA TEU ELOGIO? ELOGIA-TE A TI MESMO"

0ntem, que foi domingo, andei vagando a esmo pela beira da praia até cansar; depois sentei e fiquei observando o vai-e-vem das ondas... Dei uma olhadinha pra dentro de mim e indaguei: hei, dona Zélia, diz ai como te sentes. E dona Zélia, de olhar perdido na imensidão do mar, versejou: “Ando tão calada quanto desassossegada” Hum... Hum... Diga ao menos o nome do autor do verso. Desconheço. Tudo bem, tudo bem. Neste ponto incorporei dona Zélia e rabisquei qualquer coisa na areia, que logo apaguei com a sandália. Pelo escrito percebi da necessidade de diminuir o tamanho da minha memória. Daí, passei a observar um caraguejinho, conhecido por estas bandas como “maria-farinha”, que andava rápido e tentava se esconder enfiando-se na areia. Seria de mim que fugia?

- pensei - Mas eu não fiz nada com ele! - também pensei - Se bem que, para ser sincera, até tentei cutucá-lo com um graveto, depois me arrependi e achei melhor deixá-lo em paz . Afinal, teria suas razões pra não falar comigo, nem me conhecia direito! Vai ver, que me tinha como uma predadora da fauna, uma ameaça à sua segurança, um verdadeiro monstro, olha só o meu tamanho e o tamanhinho dele. Mas ai eu cismo... Será que não passou pelo seu casquinho que os seus olhos pequeninos e apertadinhos poderiam não estar me enxergando bem? Ora pois! Eu, que tenho dificuldade de matar até uma barata , de tão boazinha que sou! E aqui, data vênia, cabe de Erasmo de Rotterdam , a seguinte máxima: “Não tens que faça teu elogio? Elogia-te a ti mesmo”. (Elogio da Loucura).

Ah! Sobre o mar, nada direi? Valeria a pena? Claro que valeria a pena! “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” e a minha não é; só que não pretendo “passar além do Bojador”, pois pra isso tenho “que passar além da dor” e de dor já basta! Só acrescentarei que, se “Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/ Mas nele é que espelhou o céu” (Poema Mar Português – Fernando Pessoa).

Sabe..., vou ficar aqui, espiando céu e mar sem nada falar ( de olho no caranguejinho esperando que ele saia da toca e eu possa fazer um gesto de paz e amor pra ele. Depois aceno com um adeus e vou embora sem olhar pra trás... Afinal, um caranguejinho, é um caranguejinho, é um caranguejinho e a praia é o seu pedaço).

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 13/04/2009
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