Sobre a India

Bom dia a todos.

Quanto ao tema para mim é difícil avaliá-lo. Eu não vi um capítulo sequer da novela que passa ou passou. Tenho sido meio refratário à mídia televisiva. Mas nisso dou razão ao Confúcio que proclamou que "a virtude está no meio", e ao não conhecer o lado global da vida, de certa forma fico off ou odd.

Em princípio acredito que vemos o mundo conforme nossos paradigmas e assim, para entender a cultura de um povo deveríamos adentrar sua "realidade" e ver seu mundo conforme ele próprio o vê, sentindo sua vida conforme suas circunstâncias e seus valores.

Penso que um não hindu nada sentirá ao mergulhar no Ganges da mesma maneira que me sentiria ridículo ao me ajoelhar na Avenida Paulista voltado para Mecca na hora das orações.

Para Ortega y Gasset o "homem é o homem e as suas circunstâncias" e admito que o hindu se sinta purificado espiritualmente pelas águas do Benares e os muçulmanos fortalecidos em sua fé após as oraçãos em direção à sua cidade santuário.

Dos nossos valores culturais, como povo brasileiro, se isso de fato existe, dada a pluralidade e diversificação culturais provenientes da antiga miscigenação de povos de raça branca, negra, indígena autóctone e das migrações mais recentes, após as emigrações dos alemães, italianos, árabes, japoneses, coreanos, chineses, eslavos, etc., tenho a observar a superficialidade e a carência de valores nacionais que nos levam a usar tapa-olhos à la Moshe Dayan após a guerra dos Seis Dias; camisetas e bonés emblemáticos a cultuarem o Che Guevara; camisetas com a estampa do número 10 após os gols de Pelé, original ou genérico, em uma Copa; caras-pintadas diante de recentes protestos orquestrados, quando as originais contra Collor tiveram alguma autenticidade; estrelas vermelhas do Kremlin ou de Mao, nos nossos movimentos sindicalistas ou dos sem-coisa-qualquer; barbas à la Marx, jaquetas e políticos à la Jânio Quadros e Lech Walesa, e "o meu apartamento era um pedaço de Saygon" ou de Gdansk; chapéus de Martin Luther King; mini-saias à la Mary Quant; calças rancheiras no tempo do Elvis-Presley; óculos dos Beatles e da Rita Lee, e também os óculos Ronaldo - não dos atuais, mas daquele relacionado com a morte de Aida Cury. Afinal somos um povo sedento de glórias e de reconhecimento. Carecemos de ter nossas próprias ideologias e enquanto não temos nossos filósofos, aderimos mesmo àqueles que dividiram o mundo em left and right; adoramos Rei Momo e Rei Pelé; desconsideramos as duas polegadas que sobraram em Marta Rocha e a elegemos Raínha da Beleza Universal. Para nós o que interessa mesmo é ter um símbolo para satisfazer o nosso sentimento de "pertença", adolescentes que somos como povo que mal percebe como isso tudo é tão arcáico.

E assim, nesse vai-da-valsa, já começam a ser indumentária das nossas musas os diáfanos véus coloridos de Lakshmi e de Kaushalya e os lindos pontos indianos sobre a testa. Ao procurar saber desses nomes de deusas hindus constatei a enorme quantidade de empreendimentos que oferecem moda indiana. E parece que a coisa vai bem. Continuamos a ser uma sociedade manipulada pelos modismos gerados nos intra-muros das redes de televisão, nos centros de inteligência e de planejamento das empresas, e pela palavra marketeira dos governos. E continuamos a ser um povo sem referencial, vivendo ao vai-da-moda.

Mas que o "Império do Efêmero" continue a ser tão efêmero como sempre foi, para não incorporarmos outros valores, para que não venhamos a sacralizar o boi e a vaca, o que seria um desastre para a preservação dos nossos jacarés e da nossa fauna silvestre, mesmo que protegidos no imenso vazio inumano da Raposa Serra do Sol, de outras raposas e tão escassa de humanos.

Desculpem-me pelo desviacionismo dessas letrinhas, mas é que conheço muito pouco da cultura hindu, por nem mesmo ter assistido um capítulo sequer da tal novela. Do Gandhi ainda sei algumas coisas de sua luta libertária a partir da "resistência pacífica", da "desobediência civil" libertando a India da mão-de-ferro do imperialismo inglês, nos idos de 1948; Da India do socialismo nem-tanto-à-terra-nem-tanto-ao-mar de Nehru e de Indira tive algumas notícias esparsas, das religiões orientais li o Tao do Lao Tsé e o Budismo cujos conceitos básicos parecem ter entrelaçamento com a religião védica. Li várias obras de Hermann Hesse, um dos autores ocidentais em quem se considera ter sido forte a influência da cultura da India e do Budismo.

Transcrevi abaixo alguns pensamentos de Tagore e uma Oração de Mahatma Gandhi, pelo que há de moral e ético, e porque há momentos de alegria nas vitórias e de dignidade nas derrotas quando não vivemos em um mundo de alienação e fantasia, acostumados à uma prática do poder onde todo o objetivo consiste na perpetução das vantagens que o poder propicia. E tais conceitos soaram como vozes de outro mundo soterrado em dimensões de tempo não perscrutável, tamanha a desfaçatez dos tempos cotidianos.

A Índia para mim continua ainda um enigma. Situada em uma região onde os embates se recrudescem, as religiões se confrontam, e a super-população passa por mudanças econômicas, políticas e sociais importantes. Uma forte heterogeneidade de etnias e linguistica, uma esquina do mundo para onde converge a modernidade fundamentada num capitalismo de padrões de moralidade e ética questionáveis e que necessariamente confrontará a tradição espiritualista milenar de uma sociedade familiar e de castas.

Lembrei-me das caixas de marimbondos que de cinza ficam pretas ao serem cutucadas.

Marco Bastos

Oração de Mahatma Gandhi

Publicado por Mição em 13/Julho/2008

http://mition.wordpress.com/category/preces-e-oracoes/page/2/

Senhor, ajuda-me a dizer a verdade diante dos fortes e a não dizer mentiras para ganhar aplausos dos fracos.

Se me dás fortuna, não me tires a razão.

Se me dás sucesso, não me tires a humildade.

Se me dás humildade, não me tires a dignidade.

Ajuda-me a enxergar o outro lado, não me deixes acusar o outro apenas por não pensar igual a mim.

Ensina-me a amar os outros como a mim mesmo.

Não deixes que me torne orgulhoso se triunfo, nem cair em desespero se fracasso.

Recorda-me que o fracasso é a experiência que precede o triunfo.

Ensina-me que perdoar é sinal de grandeza e que vingança é sinal de baixeza.

Se não me deres o êxito, dá-me forças para aprender com o fracasso.

Se eu ofender, dá-me forças para desculpar-me e se me ofenderem, dá-me grandeza para perdoar.

Senhor, se eu esquecer de Ti, nunca te esqueças de mim!

Mahatma Gandhi

Nem por crescer em poder chegará o falso a ser verdadeiro.

A verdade difícilmente está do lado de quem mais grita.

É fácil falar com clareza quando não se vai dizer toda a verdade.

Tagore