O CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA - II

A catedral de Santiago de Compostela é suntuosa e envolvente e nos passa a nítida e quase palpável impressão de ter qualquer coisa de fenomenal, como se em seu interior houvesse algo de tal forma grandiloqüente que, como uma invisível mão afável, parece nos fazer gestos de carinho e afeto no rosto, nos deixando enlevar e sentir como se penetrássemos num mundo totalmente à parte do nosso cotidiano. Meio que na penumbra, velas acesas por todos os lugares, congestionada por uma verdadeira multidão de pessoas de várias nacionalidades e idiomas, as vetustas colunas ensebadas por dedos e mãos que ali pousaram em situações certamente as mais íntimas e misteriosas, deixava entrever, contudo, naquela babel onde o respeito predominava apesar de tudo, um belíssimo e fabuloso altar elaborado por hábeis artistas da arte religiosa e no qual, me pareceu, predominavam inúmeras peças de ouro amontoadas com precisão entre um sem número de objetos da fé católica formando um deslumbrante espetáculo para os olhos e para a alma.

Embora o falatório, os murmúrios, o espocar das luzes oriundas das máquinas fotográficas, os risos e a mistura disso tudo como interminável explosão de som atordoante, dois padres, sentados um em frente ao outro nos bancos perpendiculares ao altar, liam a bíblia e rezavam metidos em seus paramentos e alheios a tudo. O local onde os dois permaneciam estava vetado à multidão por cordões de isolamento, assim não podíamos fotografar o altar senão apenas de ângulos tortos e incompletos. Eu olhava tudo atentamente tentando memorizar cada detalhe das centenas de detalhes existentes, pois o ar do ambiente me deslumbrava, o estilo antigo da arquitetura medieval mexia nas minhas emoções e, afinal de contas, caminhava por espaços ricos em história e mistérios.

Na ânsia de guardar as lembranças em muitas instantâneos, para recordar depois todos os instantes daquele passeio único, sem perceber fiquei ao lado de um dos muitos confessionários enquanto Ana se posicionava para fotografar. Súbito, no entanto, notei alguém ajoelhando-se mas, por milésimos de segundo, ainda sem conseguir entender a realidade e o significado espiritual do gesto. Foi necessário Ana aproximar-se de mim e sussurrar-me ao ouvido: "tem um padre aí dentro e esse homem ajoelhado está se confessando". Nada ouvi do interlúdio entre os dois, nem poderia porque o barulho não deixara. Além do mais, estou certo, não compreenderia a linguagem dos dois se lograsse ouví-los. Saí de fininho à procura de outro espaço.

Vimos uma grande fila e para lá nos dirigimos apesar de não sabermos aonde levava, e isso não importava muito desde que se tantos a ela se juntavam é porque havia alguma coisa especial para ver. E como tínhamos ido a Santiago de Compostela dispostos a apreciar todas as atrações possíveis enfrentamos a espera.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 13/04/2009
Código do texto: T1536130
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