A menina cega
Ela não nascera sem visão. A tragédia aconteceu num dia quando estava brincando com outros coleguinhas. Tinha nove anos. Esperava que aquele dia fosse como os outros: após voltar da escola, e depois do almoço, ia brincar e só parava quando o sol desaparecia lá por trás da Serra Azul.
Umas crianças resolveram jogar pedras uma nas outras e só sobrou uma pedrinha de nada que lhe atingiu um olho.
Dor, desespero. Morando numa área rural, longe de tudo, sem meios de transporte, e difícil conseguir um carro que lhe levasse até o hospital mais perto. Chegando lá, depois de enfrentar uma fila, foi transferida para a capital.
Um grande hospital. Equipe especializada. Emergência lotada. Só passou por uma cirurgia após dez horas do acidente. Resultado: perdera a visão do olho atingido.
Voltando pra casa, repouso total, cuidados diversos. O outro olho começou a doer. Volta para uma consulta e recebe o diagnóstico de que estava perdendo a outra visão. Motivo: houve demora no atendimento e a cirurgia fora mal feita. Era para terem extraído o olho antes que tivesse atingido o outro.
Hoje depois de vencer muitos obstáculos e ter superado suas limitações prossegue sua vida de moça da roça que, apesar de tudo, não se deixou vencer.
Aprendeu braile, fez curso de penteado, estuda teclado, está prestes a casar e continua sonhando alto. A história dessa moça nos encoraja a não nos deixarmos abater por tão pouco, porque viver já é uma batalha a ser vencida.