NADA NOS PERTENCE - TUDO É TRANSITÓRIO 


                
                                 Foto de Arnaldo Agria Huss


Assisti a um documentário na TV sobre a “época de ouro” de Serra Pelada, região localizada no estado do Pará. O local tornou-se conhecido em todo o Brasil e também no exterior durante a década de 1980 por uma corrida do ouro dos tempos atuais. Lá foi aberto o maior garimpo a céu aberto do mundo.

 
Em 21 de maio de 1980, foi feita uma intervenção militar na área, que já contava com aproximadamente 30 mil garimpeiros. A partir daí todo o ouro encontrado deveria ser vendido à Caixa Econômica Federal. A intervenção foi comandada pelo militar Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido como major Curió. Daí o nome dado ao município que surgiu no local, Curionópolis, hoje uma pequena vila com aproximadamente seis mil habitantes.
 
Serra Pelada proporcionou riquezas jamais imaginadas a muitos que por ali se aventuraram na arte do garimpo, uma vida extremamente sacrificada e que ocasionou muitas mortes, principalmente por soterramento, pois eram muitos os desmoronamentos devido à remoção indiscriminada de quantidades enormes de terra.
 
Assim como ficavam ricos da noite pro dia, empobreciam do dia pra noite, pois a maioria não tinha a menor noção da fortuna que tinha nas mãos.
 
E é nesse ponto que entra a personagem principal desta crônica. Não lembro o nome dele, mas foi um garimpeiro que enriqueceu por demais, a ponto de querer fretar um Boeing que o levaria de Belém (Pará) ao Rio de Janeiro para visitar a namorada que lá morava. Homem culto, ele contou a história de forma resumida que é mais ou menos assim:
 
― Fui ao aeroporto em Belém comprar uma passagem para o Rio de Janeiro. Como bom garimpeiro, estava vestido com uma roupa bem simples, inclusive de chinelos. No momento em que ia ser atendido chegou um bonitão de terno e gravata e a atendente não teve nenhuma dúvida. Deixou-me falando sozinho e foi atender o ilustre que havia chegado. Passado um bom tempo tornou a dar-me atenção e aí eu também não tive a menor dúvida. Disse a ela que eu estava ali, não para comprar uma simples passagem, mas para fretar um Boeing para o Rio de Janeiro, em viagem de ida e volta. Depois de me olhar assustada foi chamar seu superior, ao qual confirmei a minha intenção. Ela havia me humilhado e agora era a minha vez de humilhá-la.
 
A matéria não deixa claro se ele, afinal, fretou ou não o dito avião, mas que ele tinha dinheiro mais do que suficiente para isso, não ficou a menor dúvida.
 
Depois disso muitos anos se passaram. Ele praticamente perdeu tudo o que havia conseguido e hoje continua morando na região, numa casa própria extremamente simples, junto com a mulher, que não se sabe se é a famosa namorada carioca de então.
 
Na entrevista ele disse ao repórter que nunca se preocupou com dinheiro e com bens materiais. “Num dia tinha ‘milhão’, n’outro dia tinha ‘mil’ e n’outro não tinha nada”. E foi assim que caminhou com a vida, afirmando hoje com altivez: “Sempre fui feliz”.
 
Terminou a entrevista com esta pérola: “Pra que se preocupar com dinheiro e com coisas materiais se depois de tudo o sujeito vai embora mesmo e não leva nada daqui?”
 
Pura verdade. Vocês já pararam pra pensar que nada é nosso e tudo é transitório? Por muitas vezes nós nos esfolamos para conseguir bens materiais, sentimo-nos mais importantes por isso, pagamos fortunas para regularizar tudo em “nosso nome” e depois... Bem, depois que vamos embora fica tudo por aqui mesmo, muitas vezes nem se sabe com quem, quando não, para o nosso querido governo.
 
Pense bem nisso e veja se vale apena isso tudo, ou se é mais interessante e oportuno encarar a vida como a nossa personagem desta história real - guardados certos cuidados, é claro.

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