Uma Vida com Locomotivas
Para mim, sempre foi uma paixão. Desde muito pequeno eu ficava encantado vendo um trem passar. Ali pelos meus 16 anos o meu pai, que era torneiro e aplainador na Cia Mogiana de Estradas de Ferro, queria que eu fosse trabalhar nas oficinas da Companhia, que aceitava menores como aprendizes de várias funções. Porém eu nunca quis. O meu sonho era trabalhar com as locomotivas, especialmente com as máquinas a vapor.
Depois de várias tentativas eu consegui ser admitido como trabalhador de depósito, isto é, para cuidar das locomotivas, especialmente as abastecidas a lenha. Nada de anormal, pois para ser foguista tinha de aprender a “fazer fogo”, limpar "cinzeiros", ter de se familiarizar em como manter uma locomotiva, que dentro de horas iria fazer nova viagem, adequadamente aquecida.
Mesmo no depósito, sem ter dado uma viagem na linha, eu já me sentia realizado, e muito feliz. Com as mãos sujas de graxa, sentir o cheiro de lenha queimando nas fornalhas era para mim o melhor perfume. Realmente para gostar do serviço com as locomotivas, isso deveria estar no sangue da gente.
Depois de dois meses no depósito eu já me sentia pronto para a minha primeira viagem na linha, e esse dia chegou.
O senhor Marcolino Pereira, que era o escalante, me chamou e disse: “.. Amanhã tu vais com o P1. O Maquinista é o José da Costa Figo, o primeiro foguista é o Manuel Paulo. Você é o segundo foguista. A Locomotiva é a 267.”.
Agradeci ao nosso chefe, e como o trem era de passageiros até Ribeirão Preto, as locomotivas usadas eram movidas a óleo combustível. E assim fiz a minha estréia na linha, e que só terminaria em 1984. Esta primeira viagem foi em outubro de 1855.
A locomotiva 267, da minha primeira viagem, era americana fabricada na Filadélfia e era chamada de “Raposa”, assim como todas as locomotivas desse tipo, que eram as de número 260 a 269.
Trabalhei também, como segundo foguista de outras locomotivas americanas, cuja numeração ia de 720 a 733. Eram as chamadas “Mikada”. Eram ótimas para trens de passageiros.
Trabalhei 2 anos com a Locomotiva 250 cujo maquinista era João Nadarke Machado e o primeiro foguista era o Sebastião José Pedro. Fazíamos todas as escalas de Campinas a Casa Branca. As locomotivas desse tipo eram as chamadas “Camelas”. Eram movidas a lenha e a sua numeração ia do 250 até a de número 255.
No ramal de Itapira, o trem era puxado por uma “Camelinha” (locomotiva 210). De Campinas a Espírito Santo do Pinhal era usada a locomotiva 350, que para nós tinha o nome de “Panko”. As “Panko“ também trabalhavam de Casa Branca a Passos. Nos ramais de Muzambinho e Juréia eram utilizadas locomotivas menores, conhecidas como “Pankinhos”, tipo 400.
No ramal de Aguaí, nos trens de passageiros, as locomotivas eram as “Mikadinhas”, tipo 220, e nos trens de carga eram as locomotivas Garratt, tipo 901 a 903.
As locomotivas Pullmann foram 3 fabricadas na Cia Mogiana, durante o período da Segunda Guerra Mundial. Nos trens de carga de Campinas a Casa Branca eram utilizadas as locomotivas americanas tipo 750 e as alemãs tipo 750 e 754.
Trabalhei, também, no trem pagador da Cia Mogiana, cuja locomotiva era a de tipo 300, muito leve e fazia o serviço de Campinas a Araguari, e todos os ramais, com perfeição. Era abastecida a lenha.
A locomotiva 980 era bem pequena (foi fabricada pela Hohenzollern, alemã de Dusseldorf, em 1886) e tinha duas rodas de cada lado, daí o apelido de “bicicleta”. Ela trabalhava nas oficinas da Cia Mogiana, em Campinas, fazendo manobras.