O HAIKAI, O SUMÔ E O SUSHI

Descobri o Recanto das Letras, há pouco mais de um mês.

Tenho meus rabiscos e achei interessante dividir as minhas bobagens com as pessoas.

Amador, no mais profundo sentido da palavra, foi aqui, que acabei descobrindo, também, o Haicai.

Gostei tanto dele, que resolvi ler algumas coisas sobre o tema, espalhadas pela imensidão da net.

Bem, algumas delas já estão bem claras para mim.

Uma é que, assim como a Toyota, a Sharp, o Miojo da Nissin e o Sumô, o Haicai é japonês. Além disso, sei também, que existem algumas regras básicas para ele: todo Haicai tem que conter um elemento da natureza, ter dezessete sílabas em três versos distintos, que a maioria dos sites, que andei lendo chama de 5-7-5.

Pronto. Está resumido nestas três regras, o Haicai. Parece-me, que a grande essência do Haicai, consiste em “dizer o máximo com um mínimo de palavras”. Esta é só a opinião de um leigo, amador como eu disse. Mas não custa perguntar: por que temos tantas regras para escrever algo?

Segundo a professora Ana Suzuki em seu site “O Beabá do Haicai”, algumas tradições do original japonês, já são opcionais. Entre elas, o título e a rima.

“No Brasil, o Haicai ganhou rima e título – coisas que o Haicai japonês não tem. Esses ganhos, entretanto, são opcionais.Quem quiser usar título usa, quem não quiser não usa.Um homem de boné ou chapéu não deixa de ser um homem... Quem quiser usar rima pode usar, quem não quiser não usa.Uma mulher, que tem a bolsa da mesma cor do sapato não fica defeituosa por causa disso, pode até ficar mais bonita”.

Concordo com cada palavra escrita pela renomada Professora. Podemos lutar e lutamos Sumô aqui no Brasil também, mas os nossos lutadores precisam ser gorduchos e com aquelas, (com todo respeito), bundas enormes e horrorosas de fora? Sempre que eu olho um lutador japonês, fico com a nítida impressão, que o fio dental deve ter nascido em alguma piscina japonesa e trazido por alguém para as praias cariocas. Mas, logo me ocorre lembrar, da essência do biquíni mais fino do mundo: para se usar uma coisa daquelas, é preciso ter uma bunda bonita, “redunda” como disse Carlos Drummond em seu poema “A Bunda”. Aqueles gorduchinhos de lá, podem até cultivar a tradição milenar do Sumô, (que segundo alguns livros, datam a sua origem no ano de 712 d.C.), mas bunda bonita eles não têm mesmo! É só a gente ir até Ipanema, para conferir as diferenças. Portanto, fica desfeita a hipótese deles terem inventado a minúscula pecinha. Voltando ao Haicai, acho exatamente o que acho sobre o Sumô. Eles criaram a coisa e cabe-nos adaptá-la ao nosso estilo. Na nossa Língua, se inicia uma frase com letras maiúsculas e com ponto ao final dela. Dirão os mais radicais: mas isso não é um Haicai! Ta bom, arrumem um nome então para o nosso genérico oras!

Ainda bem, que nessas minhas “andanças” na net, acabei por encontrar Millôr Fernandes e seus Haicais. E selecionei alguns deles, dentre tantos e tantos geniais que li:

estrela cadente

ponto de exclamação

quente

esnobar

é exigir café quente

e deixar esfriar

Olha,

Entre um pingo e outro

A chuva não molha.

Goze.

Quem sabe essa

é a última dose?

o pato, menina

é um animal

com buzina

Viva o Brasil

onde o ano inteiro

É primeiro de abril.

Espetaculares não? Pelo menos o amador aqui gostou. Estão todos dentro das regras da métrica? Todos falam em algum elemento da natureza? Por favor, que me socorram os professores do assunto. Só não vou aceitar como argumento ou resposta que o Millôr pode.

Eu continuarei dando aos meus haicais, nome, sobrenome se preciso, ponto ou vírgula se achar necessário, exclamações, interrogações e reticências, mas resguardando aquela essência que eu mesmo disse lá no início: Dizer o máximo com um mínimo.

Rebeldia? Não. Apenas preservando o sagrado direito de continuar escrevendo as minhas bobagens, afinal, foi o “imortal” Mário Quintana quem disse: “Às vezes pensamos estar escrevendo bobagens e estamos fazendo poesias”.

Finalizando, convém esclarecer: todo respeito ao povo japonês por sua cultura milenar. Não vai neste texto nenhuma crítica aos japoneses, ao contrário. Admiro-os.

É isso.

Em tempo: mas se alguém resolver me convidar para comer um Sushi, não deixe de pedir ao garçom que separe garfo e faca para mim. É que aqueles pauzinhos, aqui em casa, eu só uso em dia de churrasco.