Do imago ao e-mail
Só o dono da televisão pode assistir todos os canais disponíveis. A televisão vende pacote incompleto para que você compre outro pacote que também será incompleto. Só o dono pode sentar no inchume da poltrona confortável para se dar ao luxo de pular canais sem interdições. Aos poucos ele perceberá que o “seu” noticiário é incompleto. Abrangerá que o documentário repetido, batido, sobre cansativos animaizinhos da savana, estão guardados numa geografia devastada. Que o “show” esconde o homem e o seu fracasso total. Mesmo sabendo que a inclinação ao mundo incompleto, tão atraente aos sonhos, é cientificamente criada para que o expectador não se sinta incluso. (O que anularia a condição de expectador). Compreenderá também que o seu velho arauto da informação certeira, essa criatura inavegável, esse senhor poderoso da síntese, bem ali no noticiário é obrigado a completar: se você quer saber mais use a internet. Vá para a página do canal! A internet do canal é como se fosse o conjunto de letrinhas miúdas de um novo contrato. Portanto toda crise internacional dentro da televisão lhe será devolvida sobre a consciência de que nada se completa.
Estudantes de comunicação leram que dominar é “oferecer e privar” para borbulhar sob o preço da interdição contendo a liberdade plena como ofensa irreparável. Ser completamente livre virou sinônimo de doença mental, coisa desmedida. O ponto alto dessa constatação é a senha. A ordem do controle social do indivíduo pelo nome gráfico do homem. O ato de navegar indistintamente é ilusório, pois vivemos inacabados para assistirmos à imagem plena.
Trabalham muitas pessoas para que outras necessitem de complemento. Essa união integral de Blavatsky sofreu um efeito que ela jamais poderia prever. As identificações totais das coisas vivem hoje da construção imaginária definida por antecipação. O sujeito é composto de “monoteísmo completo” que se esfarela justo na tentativa de unificação do mundo em fragmentos. Toda exploração humana consiste em doar com uma mão e tomar com a outra em dobro o espaço entre uma parte da felicidade e a alienação dos males. Compramos a cama e ela vem sem o estrado. Compramos o carro e há o imposto. Compramos computador e ele vem sem sistema. A cada eleição elegemos um sistema e ele vem com um presidente. Portanto tudo é segmentado, truncado, inconcluso no desejo da unidade.
Ser é incompleto. O panteísmo tecnológico devolve o homem à condição de um desejo natural incompreensível. Inútil esforço deísta. Não há mais deístas, só existem divindades. Todas elas criadas na pluralidade dos segmentos a venda.