Repórteres fedorentos
O peixe que os católicos comem com gosto na páscoa é o mesmo que exala um odor político no mercado. Temperado, o animal aquático nem de longe lembra que deixou dois repórteres fedorentos. Talvez seja o preço por trabalhar em pleno dia santo. Foi a nossa Via Crucies.
Aquela variedade de peixes há espera de clientes que deixaram para comprar na última hora era a nossa pauta. Eu e o repórter cinematográfico Elmo Rollemberg tentava, em vão, não triscar nos rabos dos peixes. Ouvindo consumidores e vendedores, terminamos a matéria com a certeza de que pagaríamos vexame.
Os entrevistados de nossa terceira e última matéria até tentaram disfarçar, mas o coçar de narizes denunciava que os repórteres não estavam em condições higiênicas de trabalho. Pior foi para o nosso motorista. Além de nos agüentar pela manhã, precisou lembrar o dia todo que esteve no mercado.
Enquanto o condutor tentava sem sucesso tirar o odor do carro, o cinegrafista começava a curtir o feriado prolongado. Eu tentava me concentrar na redação do OFF. Mas estava impossível. De nada adiantou ficar de frente para o ar-condicionado, as matérias sobre o movimento das balsas e cultura afro tiverem o tempero desagradável dos peixes do mercado.
Passada a sexta-feira santa, é hora de sábado de aleluia. A tradição de queimar o Judas me fará sair da redação cheirando, ou fedendo, a fumaça. Judas trai Jesus e sou eu o que paga pelo pato.