No abrigo

Próximo à fila do ônibus há um banco de concreto com uns dois metros de comprimento. Nele haviam pessoas sentadas: duas senhoras que pareciam descansar das andanças do centro, um senhor moreno de camisa aberta e um rapaz magro vestido com a camisa do Sport, cuja altura de aproximadamente 1,90M eu só percebi quando, momentos depois, ele levantou. Esse mesmo rapaz informou, enquanto eu me aproximava que as pessoas sentadas no banco não faziam parte da fila de espera do ônibus. Isso fez a mim e a mais três pessoas se adiantarem e vislumbrar lugar sentado no próximo carro. Momentos depois aquele senhor de camisa aberta e uns 50 anos fez um movimento. O rapaz voltou-se para ele e bradou - Vai querer deitar aqui rapaz? Nem pensar! Sai pra lá. A senhora a seguir o olhou com certa irreverência e completou – Ele está bêbado! O, agora, bêbado, continuou com uma intenção mal interpretada. Há muito custo passou uma das pernas para o outro lado do banco, como quem monta um cavalo e, na mesma velocidade slow-motion tentou levantar-se. Só aí se percebeu que a sua intenção era ir embora. Todos acompanharam com o olhar aquela cena tão comum e constrangedora de ver aos tombos alguém que poderia causar impressão mais digna àquela altura da vida. Havia um saco plástico jogado no chão, embora nem precisasse. Não deu outra: ele escorregou nele e caiu. Sua bolsa, a tira-colo e entreaberta espalhou no chão seus cartões e papéis. O tombo foi pior porque ele estava junto ao meio-fio e caiu no asfalto, em desnível com calçada. O rapaz, que antes o havia tratado com grosseria, levantou-se rapidamente e o ajudou a levantar. Catou os pertences pelo chão e os pôs na bolsa, limpou com as mãos a areia na roupa do bêbado e o “aprumou” no sentido em que parecia desejar ir. Ficou olhando-o de sobreaviso com quem iria socorrê-lo em nova queda ou se algum carro o ameaçasse atropelar. Já eram 7 da noite. O ônibus chegou e deixei para trás aquela gente pragmática, mas ocasionalmente generosa que flutua no centro decadente do Recife.