VOLVER
Que me perdoem os esperançosos, crentes no binômio tempo/distância para solução de crises afetivas. Que me perdoem os religiosos, símbolos de fé, apostadores convictos de que, daqui a pouquinho o Mano, com burro ou sem burro, com chicote ou sem chicote, multiplicando para dividir pães e peixes, voltará. Por fim, percam as esperanças aqueles que entendem que recorrer a velhas fórmulas de desempenho bem sucedido são soluções para problemas atuais.
Não acredito em voltas. Se motivos houve para cisão é porque o que havia não teve tamanho suficiente para ser maior. Amor é como tratamento dentário. Faz-se o possível para manter os originais, mesmo que amplamente remendados, mas uma vez arrancados babaus, não renascem. Só com implante e alguns até com resultado muito melhor. Vale também para relacionamentos profissionais. Podendo, jamais volte para ex-emprego Você será chamado como salvador da pátria baseado naquele seu sucesso passado, mas só depois que a empresa não encontrou soluções no mercado. O momento é outro e o desespero é tão grande que tiveram que recorrer ao passado. E no mais das vezes não há mais tempo para nada.
Estamos vivenciando o clima compungido do ícone dos retornos: a Ressurreição do Mano.
O Criador é fã do contraditório. Naquela época elegeu Tomé como o primeiro pentelho do Cristianismo, que mesmo tendo convivido com o Filho do Homem queria tocar nas feridas para acreditar que o Mano tinha voltado (João 20:24-29). Tomé fez escola, mas prefiro não pensar a respeito, muito menos enfiar os dedos em chagas. Apenas acredito que de algum lugar ou plano estou sendo olhado por olhos bons e piedosos. Que o sacrifício do Mais Velho me rendeu este pouco de sensibilidade que tenho para amar desprendido meus outros irmãos; de entender que ser bom e justo é o reconhecimento que preciso para viver com paz de espírito e que perseguir esse status, apesar das dificuldades impostas pelo mundo moderno deve ser parte das minhas intransigências.
Devo dizer, por fim, que o sacrifício do Mano me toca de tal forma que neste período do ano, muito mais do que no Natal, revejo ações, conceitos, me policio e às vezes lamento por fazer parte de um grupo da cadeia natural capaz de tantas atrocidades.
Para mim não há retornos. Os acordos impostos em eventuais voltas, no mais das vezes terminam por sepultar até coisas boas do passado. Acreditem: sentir saudades é melhor do que assassinar lembranças. A saída é sempre buscarmos alternativas melhores, e nós próprios aprendermos com os erros (bom seria que fosse com acertos) e melhorarmos como gente, pois assim seremos ainda mais amados.
Aproveito para mandar um pedido especial ao Velho: deixe o Mano quieto no seu canto, apenas intercedendo por nós vez por outra. Está provado que pregar por estas bandas é pregar a toa. Aliás, da última vez que pregou saiu pregado.
Jair Portela