Pirataria Sugerida
Todo ano é a mesma coisa. O cigarro aumenta. Mas tudo bem, porque tudo aumenta, inclusive o salário. Provavelmente não na mesma proporção, mas isto já é uma outra questão. Mas o Hollywood passar de R$ 2,75 para R$ 3,50 é um absurdo.
Alguns dias antes deste disparate do governo eu ouvi no rádio que o cigarro ia aumentar 30%. Fiz as contas rapidinho e pensei: “Pô, sacanagem!” Mas o programa do Boechat estava bom e não pensei mais nisso. Hoje, quando fui comprar um cigarro…
- Me dá um Hollywood azul, por favor?
- Não tem. Só o verde [ou seja, só o que não vende].
- Você sabe dizer onde eu acho o azul por aqui?
- Ih, cara, todo mundo está escondendo este e o vermelho…
- Tá, Por falar nisso, sabe quanto vai ser o preço novo?
- R$ 3,50, a partir de amanhã.
- Porra! Então é por isso que tá todo mundo escondendo?
- É.
Corri para o mercado atrás de um pacote de Hollywood para fazer a minha economia de 25% mas a burguesia, definitivamente, foi mais esperta do que eu. Também lá só havia os cigarros que ninguém compra. Todo mundo comprou cigarros para vender a 2,75 e está guardando para quando o preço for R$ 3,50.
Saí dali completamente chocado. Não é possível, esse aumento todo. Como eu vou fazer? Eu já gastava R$ 82,50 chorando. Não vai ter como gastar R$ 105,00 só com cigarros. O que eu vou fazer? Pensei até em descer para o Derby, mas não rola pagar R$ 3,00 por um Derby. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, o problema do Derby não é ser forte ou fraco. Ele é simplesmente ruim, passando bem perto do horrível.
E agora? O que fazer?
De repente, num lampejo de sanidade, da minha cabeça veio a idéia: comprar cigarros paraguaios! Então Zelia Duncan pôde soltar a voz e cantar “Por que é que eu não pensei nisso antes?” Afinal de contas, o que todos nós fazemos quando queromos comprar um CD lançamento mas o preço está abusivo? Ou quando queremos instalar o Vista? (por falar nisso, quem paga R$ 989 por um sistema operacional que apresenta incompatibilidade com vários programas?) Damos R$ 15,00 na mão do nosso amigo da Uruguaiana e fim de papo.
E é isso. Na Uruguaiana é fácil achar cigarro a R$ 1,50. Eu até me disporia a pagar o dobro do preço por um Hollywood, que tem o sabor melhor, mas R$ 3,50 não. E o pior é que esse aumento foi, segundo o governo, para compensar a redução, fim, sei lá, do IPI dos automóveis. Deve ter também alguém em Brasília dizendo o aumento do preço vai reduzir o consumo e menos pessoas vão morrer em função do cigarro. Bah! Para responder a isso eu convoco Mister N:
“Aumento no preço de cigarros implica diretamente em cigarros piratas. Parte do dinheiro que a gente deixava na banca de jornal, agora a gente vai deixar na banca do camelô, que não paga imposto. O governo vai perder receita e continuar tendo o mesmo número de fumantes. [só uma observação, Mister N: eu acho que as classes A e B vão manter o mesmo estilo de vida. A classe C vai descer um nível no tipo de cigarro que fuma. Em qualquer classe, só vai largar o vício quem precisava de um empurraozinho, exceto nas classes D e E, que vão continuar fumando o seu paraguaio.]
O que vai acontece é que vai aumentar o contrabando de cigarro. Se o preço sobe, o brasileiro se mostra mais brasileiro e dá o seu jeitinho, bem acessivel: compra o mais barato, de pior qualidade. Um cigarro com certeza muito mais prejudicial à sua saúde, já que ninguém sabe o que existe dentro de um mata-rato daqueles. O governo, que prezava tanto pela saúde do fumante, acaba fodendo mais ainda o coitado.
Isso não vai funcionar, assim como a Lei Seca não funcionou nos EUA.” (um tal Mister N no Fórum Players)
E não somos só Mister N e eu que pensamos assim, não. Vejamos na Europa, há alguns anos, quando o governo francês decidiu aumentar o imposto sobre o cigarro:
"Viajo muito para a Espanha e vou aproveitar para comprar meus cigarros quando estiver lá". (Nina Carlondes, entre uma tragada e outra no Champs-Élysées)
Na nossa Europa:
“Desde que comecei a fumar, só compro cigarro paraguaio. O brasileiro eu compro em último caso, quando não encontro o paraguaio e me obrigo a pagar mais caro. Sei que a qualidade nem se compara e o perigo à saúde é muito maior, mas não tem outro jeito.” (Ademir Buss, paranaense)
Até entidades ligadas ao governo assumem:
“Sem dúvida, o volume de cigarros contrabandeado vai crescer sensivelmente em função desta diferença maior de preço”, (Luciano Stremel, da Associação Brasileira de Combate à Falsificação)
Eu não vou dar ao governo o gosto de me ver parar de fumar. Ele que invista muito bem no INCA! Ou retira essa sobretaxa.
Recado dado.
(postado originalmente em http://airtonbolquett.wordpress.com/)