DESEJO QUE VOCÊ QUEIME!

Lindamente poetizaram que a paixão é chama. Então, há muito aprendemos que como chama, a paixão se apaga.

E o apagar deste sentimento ardente, deste calor vivificante, desta loucura revigorante, na maioria das vezes acontece, imperceptivelmente, devagarzinho... Como se uma brisa mansa - mas, perversa - soprasse um pouquinho a cada dia, até extinguir completamente o fogaréu sentido. Quando a gente dá por si, está no meio do amontoado de cinzas soprando para ver se encontra uma fagulha perdida que reacenda o fogo e todo o resto.

Muita gente prefere guardar para si este acontecimento, escondê-lo embaixo das cinzas e seguir soprando... E o que vem a ser isto, senão mais uma prova de que as pessoas vêm dispensando os sentimentos? Mais uma amostra de que, na estatística da vida está cada vez mais fácil descartar o SENTIR? Tem gente que consegue viver sem tremer, sem ferver, sem desejar, e contenta-se em desfrutar a insipidez da chama branda, que aquece, mas não queima.

Ao folhear os poemas do passado e ouvir o brado dos poetas apaixonados, me ponho a indagar: Onde foi parar este amor ardente? Por onde anda este sentimento desvairado que vivifica a alma e alimenta o coração? De onde vem este sopro forte que está apagando as emoções?

Não me diga que é a cara do futuro que chegou para morar aqui. Não me fale que é a culpa do tempo que fugiu de nós. Não justifique-se como um sobrevivente pós-guerra que só sabe lutar.Não quero me unir a esta legião.

Digo-me poeta, escrevo aos corações as cartas ditadas pelo meu. Então decreto que o calor inflame, que a chama queime e que o amor arda até que ela se apague. E ao apagar-se - posto que não seja infinita - não se extinga feito cinza, mas fulgure como faísca. Pronta a acender a um soprar mais forte. E quando ao coração não restar mais o ar que à paixão incendeia; que ainda assim seja brasa, para aquecer a morte.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 09/04/2009
Reeditado em 09/04/2009
Código do texto: T1530484