A grande final
Numa mesa de bar, conversas variadas, trabalho, mulheres, festas, problemas do dia a dia. Tudo embalado a várias garrafas de cerveja, neste e no bar anterior, onde um providencial “pendura” garantiria um mais elevado nível alcoólico para esta noite.
Risadas e gargalhadas cortavam o salão, oriundas desta e de outras tantas mesas, cercadas dos mais variados loucos. Mais uma noite fútil que transcorria em sua corriqueira mediocridade.
“Hein, vamos terminar essa e vamos andando”, diz um apressado que bruscamente decidiu que já era hora de encerrar a noite, no que é logo apoiado por outro dos três bêbados que ali praticavam o esporte do ócio.
Sem opção, o terceiro, ainda que um tanto contrariado, aceita em silêncio o fim daquela bebedeira de meio de semana.
Desce-se a escada sem um tombo sequer, no conhecido caminho até o caixa do bar. Estranhamente, os dois apressados param junto ao caixa, onde sobre a cabeça do proprietário do lugar um aparelho de televisão, ligado na maior emissora de sinal aberto chamava a atenção de pagantes e passantes. Tratava-se da exibição da grande final.
Alguém, sem o menor tipo do locutor esportivo clássico narrava, de forma tediosa, lances que não continham nenhum movimento. Palavras jogadas ao vento, incompreensíveis no contexto daquela competição.
Mas e que competição era aquela?
Ouvia-se falar sobre quem seria o campeão, que seria conhecido em instantes, dizendo-se que se tratava de um grande lutador, um grande vencedor.
Mas onde estava a bola? Onde estavam as raias? Onde estava qualquer coisa indicativa daquela competição? Seria uma luta? Mas não havia ringue ou tatame. O que é que está havendo?
Ao redor da TV todos estão estáticos, fazendo pequenos comentários e afirmando e reafirmando suas predileções. Mas como eles escolheram um lado se ninguém está a fazer nada por ali?
Na tela observa-se apenas um homem abraçado em duas mulheres, uma delas de corpo exuberante, é verdade, mas que em nada lembrava algum competidor de qualquer esporte conhecido. E aquela voz monótona, tentando imprimir uma artificial e forçada emoção, continuava, vez por outra, com a cena cortando para aquele que falava.
Mas do que se trata afinal?
Após alguns instantes, sem que nada tivesse acontecido de novo, anuncia-se o grande campeão, aquele rapaz cercado pelas duas mulheres. Mas o que ele fez para ser campeão? Do que se trata essa joça afinal?
Ah, aquele narrador revela o segredo, até então oculto pra mim: Big Bode Brasil.
Não sei se me suicido por ver que tamanha inutilidade e mediocridade domina tantas mentes ao meu redor, ou se comemoro a grande final, por saber que pelo menos por 1 ano estaremos livres de tal lixo.
Mas eis que me recordo que aquelas figuras sem nada a nos apresentar vão povoar todas as conversas, todas as notícias e toda a alienante programação televisiva.
Mas ao menos pude me divertir com a observação da grande mediocridade humana, ao vê-los assistindo à “Grande Final”, extasiados, absorvidos pelo lixo cultural de massas.
Um brinde à mediocridade humana!