Onde é Cafelândia?

Onde É Cafelândia?

Chamado pelo meu chefe da empresa ele me disse que eu ganharia um presente: uma viagem ao Paraná com tudo pago. Eu poderia descansar como quisesse e ainda teria minhas férias normais na época certa ou aproveitar e me envolver num projeto novo. A filial estava desenvolvendo um projeto com o propósito de ajudar as pessoas de baixo poder aquisitivo da região, mas ficaria a meu critério se eu quisesse participar. Essa viagem parecia ser um presente, depois de tanto tempo de trabalho prestado com eficiência com um bom relacionamento de trabalho. Os colegas de trabalho sempre gostaram muito de mim pelo meu jeito de ser.

Sou muito bobo. Fui perguntar pro meu chefe quando ia para Curitiba, a que horas sairia o vôo e ele deu a maior risada na minha cara dizendo que as passagens ainda iam ser compradas na rodoviária para Cascavel e de lá daria um jeito e iria para Cafelândia. Então eu broxei.

Mas tudo que recebo agradeço a Deus, pois ele sabe o que faz por nós. A partir daí comecei a fazer uma pesquisa cansativa do meu novo paradeiro nos próximos dias e encarando aquela nova situação de coração aberto que deve ter sido colocada para mim por algum motivo especial. Acho que tudo é colocado no nosso caminho com o objetivo de estimular o nosso amadurecimento cultural e como ser humano também, pois temos de passar por situações diversas nas quais, na maioria das vezes, temos que ter um jogo de cintura para podermos sair de situações adversas. E, como profissional é um aprendizado maior que agregamos na nossa bagagem de profissional da área.

Iria percorrer um dia e meio de viagem de Belo Horizonte até Cascavel, pois eram 1.381km e depois, mais 37 km até Cafelândia, se conseguir conexão imediata, se não teria de ficar aguardando um meio de transporte para o local, pois desconheço os horários disponíveis para Cafelândia. Tudo para mim é novo e diferente.Como era de costume já tinha arrumado minhas coisas com antecedência porque não gosto de deixar nada para última hora, sempre fui muito precavido. Aprendi a ser assim com minha doce mãe que já faz um bom tempo partiu, mas que ainda guardo com o maior carinho a sua lembrança no fundo do meu coração. Eu poderia ter aprendido mais coisas sobre a vida com ela.

O meu aparelho de CD para tocar as minhas músicas prediletas foi a primeira coisa a ser separada, pois eu não sei viver sem ouvir uma boa música principalmente aquelas que mexem com o coração da gente estando onde a gente estiver. A música, muitas vezes, leva-nos a momentos não só de bagunça do coração, mas também de dor, principalmente em relação ap sentimento de saudade da pessoa amada. Ela embala os nossos corações nos mais belos sonhos nas noites de solidão.

Estou indeciso por não saber qual o tipo de clima que faz nessa região. Nessa estação, já sinto calor por natureza, mas fico com medo porque não conheço o lugar para onde vou e tudo aquilo que não conheço me coloca medo. Além disso, eu detesto desorganização, pois tenho tudo muito certo já bem definido na vida desde a hora que acordo até a hora que deito.

Minha viagem será noturna onde o clima estará mais fresco, pois detesto calor. A saída está marcada por volta das 19h. Neste horário concluí de antemão que teria de dormir em Cascavel, mas isso não me preocupava. O importante era chegar são e salvo. Esse sempre foi o meu lema de vida nesses quase cinqüenta anos. Dificuldades eu já passei várias vezes, mas ainda estou aqui de pé vendendo saúde.

Aproveitei a calada da noite no ônibus para, num primeiro instante, ficar pensando no que havia ouvido pela manhã. Pessoas queridas de níveis sociais e culturais diferentes que tinham lido meu texto “AS MARIAS”. Pensei sobre o assunto por um bom tempo: que um dos textos escrito outrora, parecia dizer de duas Marias, dos tempos modernos e da corrupção que invade o nosso país.

Durante a viagem toda vez que o veículo deixava o asfalto eu acordava automaticamente. Esse era um aviso que estava na hora de comer e ir à casinha então eu aproveitava comia uma coisa leve voltava para o ônibus, dormia novamente, só acordava na outra parada e foi assim sucessivamente até a chegada.

Durante o dia, quando viajávamos, aproveitei para conhecer um pouco o local para onde estava indo, pois não queria chegar como um peixe fora d’água. Li várias coisas a respeito do lugar e fiquei até curioso para saber como aquele pessoal vivia.

A estrutura social, cultural e econômica seria levada a outras capitais brasileiras, para que houvesse um intercâmbio maior dos técnicos de cada área, aumentando o leque de conhecimento dos serviços que a empresa poderia prestar com segurança aos seus clientes nos diversos segmentos. Eu achei isso uma atitude muito louvável pela empresa porque geraria mais oportunidades de emprego e melhoraria as condições de vida das pessoas, que de alguma forma precisam dessa ajuda.

Peguei o relatório que tinha feito de Cafelândia e comecei a destrinçar dentro do ônibus. A viagem era longa e seria um bom passatempo poder observar pela janela a bela paisagem. No decorrer da estrada se formavam lindas paisagens, cada qual com seu estilo próprio de beleza, à medida que vai chegando mais próximo do Paraná. Comecei a pensar sobre a ocupação do lugar. Depois de um breve estudo no site de Cafelândia, eu tive a exata noção de como tudo começou ali.

Até 1948, as margens do Rio Caixão eram habitadas por safreiros descendentes de caboclos e índios. E no início da década de 50 começou a se formar um povoado cuja denominação inicial era Caixão. Os colonizadores, que chegaram para consolidar a formação do povoado de Caixão, vinham do Sul do país principalmente da cidade gaúcha de Erechim e, se misturando aos habitantes locais formaram um lugarejo e modificando sua denominação para Cafelândia devido às grandes plantações de pés de café.

Toda essa história já era um começo para eu entender a colonização do lugar. Depois li outros dados importantes que estão um pouco defasados já que são de 2000 do IBGE, mas daria para se ter uma idéia geral do lugar. Eu queria que aquela viagem fosse para mim uma aventura mais de reconhecimento pelo muito fiz pela empresa porque durante a minha vida inteira vesti a sua camisa como se fizesse parte da indumentária.

A viagem era linda e eu estava adorando tudo, e até sentou perto de mim, uma senhora muito elegante, com uma voz macia que também iria para Cascavel. Ela embarcou no ônibus em São Paulo. Como sou curioso indaguei o seu nome e me disse que era Val. Retruquei como faço sempre quando desconfio que algo não é verdade então, ela me disse que seu nome era Valquiria Aparecida dos Santos, mas que não gostava de ser chamada desse nome e sim de Val e que iria para Cafelândia. Tomei um susto, quando descobri ser ela a minha nova companheira de trabalho lá em Cafelândia. Só que ela detestava ser chamada de Valquiria, mas vocês me conhecem, quando pego no pé de alguém, sou chato mesmo e ninguém agüenta, não tem quem tolera. Comecei a falar do local para onde estávamos indo e ela ouvindo me perguntou meu nome. Falei que era André Luiz, por causa do meu avô.

Ela era também do tipo aventureira como eu. Estava ali para qualquer coisa. Eu sabia que iria uma pessoa comigo de São Paulo com o nome de Valquiria. Era uma mulher interessante, tinha seus quarenta e pouco anos e se encontrava em fases de brigas constantes com o marido. Ela ia me contando os problemas do seu dia-a-dia. Lá pelas tantas me diz que hoje em dia é uma coisa muito natural os problemas conjugais e então resolveu aceitar esta aventura para ver se esfriava um pouco a sua cabeça, pois as minhocas já estavam fazendo buracos.

A conversa corria solta dentro do ônibus e com a temperatura ajudando na mudança de uma estação para outra, ou seja, do inverno para a primavera, ficava agradabilíssimo o ambiente.

Ela continuava a me contar detalhes sobre a sua vida, coisa que até achei interessante, pois até então não tinha lhe pedido para falar nada pessoal. Creio que pelo momento que ela se encontrava precisava se abrir com alguém e sentiu confiança em minha pessoa. Abriu o verbo sobre suas frustrações. Nessa hora só fiquei de ouvinte, escutando atentamente. Se me pedisse opinião lhe dava a que achasse que fosse mais independente para não tomar partido para o casal, pois não os conhecia. E seria um julgamento baseado somente num lado, mesmo ele sendo bastante imparcial no seu jeito de se expressar.

Logo depois de todo esse papo, o veículo deu mais uma parada num posto de gasolina onde comemos algo e tomamos um ar fresco, pois eu estava com a cabeça quente de tanta história, fora as minhas que tenho de carregar também.

Não demorou muito tempo e estávamos na rodoviária de Cascavel e tivemos uma ótima surpresa, pois o prefeito de Cafelândia sabendo do nosso horário de chegada na cidade colocou um carro a nossa disposição com motorista do translado até o nosso destino. Foram mais 40km de carro até ao município. Ficamos hospedados numa casa cedida pela prefeitura, já mobiliada, para acomodar hóspedes temporários como era o nosso caso.

A casa era simples, mas confortável e possuía o essencial para podermos ficar a vontade. Nela tinha dois quartos enormes com suítes, uma cozinha imensa, um salão de jantar, um estar íntimo, copa e um banheiro social. Em volta da casa era tudo gramado com lindas orquídeas que decorava o lugar. Não esperava tanto! Porque no ano de 2000 como se constava no IBGE, não existia ainda saneamento básico para a população, coisa que é fundamental nos dias de hoje.

Chegamos na cidade à noitinha, então resolvemos dar uma descansada. O motorista estaria por nossa conta naquele dia. Aproveitaríamos o máximo da situação. Depois de uns poucos minutos de descanso conversei com ela e sugeri que fossemos tomar banho. Cada qual no banheiro de sua suíte. Sabia de antemão que ela iria demorar, pois o banho de mulher, de modo geral, não é fácil. Sr. Fábio, o motorista estava na porta da casa dando uma limpeza no automóvel, já que havia muita poeira devido ao trajeto de Cascavel a Cafelândia. Comecei a conversar com ele trocando algumas idéias sobre a cidade e seu povo. Era meu primeiro contato com um nativo e eu aproveitava para coletar dados, já pensando no relatório que teria de ser entregue na empresa. Este era um trabalho de campo: registrar o estilo de vida da população para serem traçadas metas de desenvolvimentos para a região e todo dado é importante sendo colhido com qualquer pessoa, depois é feito uma somatória dos dados, tira-se uma média, traça-se um objetivo geral para a população com seus objetivos principais e o que mais se precisa para a comunidade residente ali.

Mais tarde o motorista do prefeito nos levou ao melhor restaurante da cidade onde pudemos jantar por conta do município. Tanto eu quanto ela estávamos adorando a idéia de nos fartarmos de graça, pois éramos dois “unhas de vaca” além disso, poderíamos trocar algumas idéias.

Daquele dia em diante teríamos que pensar no que realmente íamos querer daquela nossa vida para que depois não nos arrependêssemos de ter feito ou não ter feito algo.

Escritordsonhos
Enviado por Escritordsonhos em 08/04/2009
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