O Incêndio

Os pássaros estavam inquietos. Voavam de um lado para outro, pareciam querer dizer algo. A dona da casa que tinha o sono leve percebendo a inquietação das aves levantou-se e foi verificar o que estava acontecendo. Chegou a pensar que poderia ser um rato ou um gato que entrara e estava a espreita dos seus animais. Ela lembrou que numa outra ocasião aconteceu uma verdadeira chacina; vários pássaros desapareceram de dentro do viveiro, e como sinal ficara apenas cabeça decepada, uma asa, um pé, algumas penas ensangüentadas...

Olhando atentamente, e não percebendo algum perigo, voltou ao quarto. Novamente os barulhos se fizeram ouvir. Os animais não davam sossego. A dona da casa resolveu olhar no primeiro andar. Tropeçando de sono, acendendo as luzes, subiu para dá uma olhada. Quando desceu, viu um clarão na cozinha e pra lá se dirigiu acendendo novas luzes.

Um estrondo... Vidros se partindo... Um calor muito forte... Labaredas de fogo. Toda cozinha ardia em fogo: Fogão, sugar, armário. Sem voz, fica ali parada, sem ter noção de tempo. Pensa em correr... Não encontra as chaves. Pára e pensa: E minha família? Vou deixar meus filhos e netos morrerem no incêndio?

Como uma sonâmbula vai até o quarto que estava perto da cozinha e quase sem forças, consegue acordar uma filha. A moça desorientada percebe que algo está fora do normal: Um som sibilante vem da cozinha e ondas de calor invadem seu quarto. Os pássaros voam desesperados. Ela sai da cama como que em transe e ao chegar à cozinha pára como se tivesse vendo o próprio inferno.

Corre ao telefone, liga para os bombeiros, acorda o pessoal que dormia em baixo.

O fogo continua preso à cozinha, mas sua intensidade aumenta. Som do carro de bombeiro. Graças a Deus que já estão chegando!

Olha para a mãe, e percebe que a sua velha não agüentou o susto e sentada na sala, ali ficara como se estivesse fora de si.

Os bombeiros passam direto... Desespero. Volta a ligar e diz que o carro passara direto. O atendente pede que ela fique atenta e diga quando o som estiver mais próximo. De prontidão fica a espera de um som que não vem. Passa o telefone para sua irmã, e sai desesperada abrindo as portas, colocando os viveiros pra fora, abrindo janelas.

Bombeiros perdidos. Ela toma uma decisão por desespero. Vai até a cozinha e percebe que o poder do fogo diminuíra. Consegue passar por entre os vidros quebrados e móveis retorcidos. Com dificuldade abre a porta da cozinha (o calor entortara a porta). Volta para pegar um lençol. Coloca-o debaixo de uma torneira e quando o mesmo está molhado leva-o até o botijão e joga-o sobre o botijão de gás. Automaticamente a chama azulada apaga. Volta a pegar vasilhas com água e vai jogando sobre os restos de incêndio. Quando percebe que o calor está mais brando enrola as mãos em panos encharcado e arrancando o botijão, joga-o no quintal.

Bombeiros entrando. Aprovando seu trabalho. Saem conscientes de que não chegaram tarde demais...

Ela olha para o teto escuro. O calor ainda presente. Um pensamento lhe deixa em estado de choque: esquecera seu sobrinho!

O incêndio fora bem embaixo do quarto do sobrinho de três anos, e que no desespero ninguém lembrou de subir e tirá-lo em segurança. Deus!!! Como pude esquecer meu anjinho?

Senta ao chão, e deixa cair às lágrimas... Só agora dá conta da grande tragédia que conseguira evitar.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 08/04/2009
Código do texto: T1529173
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