A baiana

Na época em que eu caminhava na praça do antigo kartódromo, em São Carlos, teve um dia que apareceu uma mulher cantarolando com um "squeeze" na cabeça, aquelas garrafinhas de plástico em que se coloca água para levar nas caminhadas, academias, exercícios físicos.

E ela vinha toda feliz, equilibrando muito bem o "squeeze" e chamando a atenção de toda a gente que se exercitava por lá. Com seu jeito naturalmente extrovertido, caminhava e cantava e cumprimenta calorosamente os que ao seu lado passavam.

A cena se repetiu não só uma vez, nem duas. Com os dias, eu já chegava ao kartódromo procurando com os olhos aquela senhora de alegria contagiante.

Numa ocasião, ela passa ao meu lado e grita “oi, pedaço!”. Não sabia se aquilo era brincadeira ou ofensa e segui andando. Na segunda volta, inevitavelmente meus olhos se voltaram para ela e veio outro grito: “êeee, pedaço de mal caminho mesmo!” Só consegui rir mesmo.

Teve outro dia que ela caminhava com duas amigas. Incrível a sua habilidade de conversar, cantar, mexer com as pessoas e equilibrar o "squeeze" ao mesmo tempo. E toda vez que nos cruzávamos, os seis olhos vinham na minha direção com largos sorrisos.

Dali a pouco, as duas amigas foram embora e lá veio a senhora feliz na minha direção. Puxou papo. Ao meu lado, ela falava mais baixinho. Algo diferente rolava no ar. Só depois que percebi que ela tinha despachado as amigas para vir falar comigo. Em cinco minutos contou-me sua vida inteira.

É baiana, casou-se faz alguns anos com um homem apaixonado por ela e que recentemente lhe presenteou com um carro. Quando veio a São Carlos, há uns 20 anos, não conhecia chuveiro, tomava banho do “corguim” (“correguinho”, pequeno córrego). E tomou o maior susto quando na casa da patroa começou cair um monte de água do teto na hora de tomar banho...

Claro que quem conta sua vida também quer saber da alheia. Contava e perguntava da minha – idade, se sou solteiro, com que trabalho... Ao final, revelou: “minha amiga gostou de você”, e desatou a falar bem da amiga.

Essa é apenas uma das estórias hilariantes da baiana. Depois que comecei fazer academia e deixei de frequentar o kartódromo, quando ela passava lá em frente, entrava para me cumprimentar, disse que estava sentindo minha falta e me colocava em dia com suas novidades. Contou-me da sua viagem ao nordeste, ofereceu-me um terreno que estava vendendo, convidou-me para ir a sua casa.

Começou então a frequentar a mesma academia... mas em horário diferente do meu. Pena... Os exercícios por lá seriam mais alegres e eu teria as crônicas “A baiana – parte 2, 3, 4...”.

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Em tempo: falando desse jeito, até parece que tá chovendo na minha horta, mas infelizmente não é bem assim não... hehe...

(Sanca, 05/04/2009)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 08/04/2009
Reeditado em 08/04/2009
Código do texto: T1528954
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