No tempo dos bondes

Eu esperava o Vila Buarque numa ilha da av. São João e os camarões eram raros nessa linha. Então, eu ia mesmo de bonde aberto. Eles eram engraçados, tinham estribos dos dois lados e bancos na largura, atravessados. Sentadas, frente a frente, iam as moças, crianças e pessoas mais velhas. O cobrador não saía do estribo, onde fazia malabarismos. Quando os passageiros já haviam descido e subido, com um toque de sininho, ele avisava o motorneiro: tein! tein!

Os rapazes preferiam viajar do lado de fora, pendurados. Sempre que o bonde ia saindo do ponto, vinha um retardatário correndo atrás dele. Com um salto, alcançava um pé no estribo, e pegava o bonde andando. Seus movimentos acompanhando, a rapaziada, gesticulando, gritava estridente.

O cobrador, tal um acrobata, conseguia andar para frente e para trás, mesmo com o estribo abarrotado. Esticando ligeiro uma perna pro ar, contornava um passageiro e voltava a cobrar. Uma de suas mãos, com notas dobradas entre os dedos, segurava o balaústre e a outra recebia o dinheiro. As moedas, jogava na bolsa, que pendia a tiracolo.

Naquele horário bem cedinho o bonde era alegre, apinhado de estudantes do Mackenzie, das faculdades da Maria Antonia e do colégio Rio Branco. Falando alto, dizendo gracinhas, mexiam com todo mundo ao longo do caminho. Principalmente na subida da avenida Angélica, quando o bonde, devagar, nos trilhos rangia.

Na esquina da Consolação eu descia. Meu colégio ficava ali pertinho.