Cara ou coroa (2)

CARA OU COROA

O núcleo incandescente de um cometa, e as estrelas, têm luz própria. Os planetas e satélites, atraídos pela força maior, ficam gravitando ao seu redor, como abelhas em volta da flor. O néctar e o pólen fertilizador, são por elas transportados, mas não desfrutados.

No mundo há os que nasceram para brilhar, clarear as trevas com sua luz, e aqueles que são como sombras. Sonham com o brilho sem jamais chegarem lá. O verso e o reverso da mesma moeda: de um lado a cara, a pessoa, um alguém; do outro, a coroa, o símbolo que deseja ser a face, sem conseguir seu objetivo. Nesta terra dualista estamos sempre entre escolhas e o nosso livre arbítrio nos leva a perambular ora em um lugar, ora no outro.

O sol e o núcleo do cometa, sua cabeça, são sempre os atores principais do seu universo. Em torno deles, os que não são originais, giram em suas órbitas, buscando um pouco do calor e da luz que se irradia do centro.

No jogo da vida, comparado com moeda, devemos buscar ser “a cara”, que pertence a uma pessoa, enquanto a coroa é um símbolo. O ideal deve ser um ímã forte que nos impede de enveredar pelos desvios atrativos, falsos brilhantes que seduzem. A inteligência humana pode ver a vantagem de estar entre os poderosos, mas só o conhecimento lhe tornará capaz de construir o próprio espaço e escolher seu destino.

Os planetas, cujo interior ainda é incandescente, usufruem a luz e o calor irradiados pela estrela, em torno do qual giram. Mas, se não fosse a sua medula, jamais teriam vida na superfície e em pouco tempo morreriam, sem deixar rastro de sua existência. A lei da vida é a lei do mais forte. Ele se torna centro e fonte de energia para os mais fracos. Mas, ser o centro gera um desgaste, uma perda tão grande, que poderia dar origem a um buraco negro, onde nem a luz penetra. Aí reinam as trevas e sua serva fiel, a penumbra. Alimentando-se da escuridão, ela fica na entrada, acolhendo os incautos e desprevenidos, atraídos pela voragem.

A peleja é dura e a luta renhida, o que me faz lembrar do poema de Gonçalves Dias “I Juca Pirama - Não chores, meu filho, que a vida é luta renhida, viver é lutar. O que é mais fácil, ou mais agradável, debater-se contra a atração da vertigem, ou deixar-se levar pela corrente? Já reparou que quando se contempla um abismo, um buraco muito fundo, as nossas pernas tremem e temos uma espécie de tonteira? Estamos em nossos sentidos e podemos dizer sim ou não à atração mas, por uma fração de segundo, é como se esta decisão não estivesse ao nosso alcance.

É muita filosofia barata, para um sábado de sol em Petrópolis, cidade nobre, cujo turismo se fez em torno de um Imperador que se encantou pelo lugar, e nele plantou seu palácio de verão. Mas se pensam que assim foi denominada por causa do seu fundador, enganam-se. Petrópolis é assim chamada por causa de seu padroeiro, São Pedro de Alcântara, cuja festa se comemora no dia 16 de março, feriado maior da cidade serrana. Dom Pedro II é o “cara” e em sua cabeça está a “coroa”.