ACABOU O AÇUCAR
 
 
       Cheguei da rua, onde fiz tudo que era preciso fazer.
         Eu estava velha. Na minha calça jeans e a blusa de sair. Correta.
         Hoje eu estava velha. Olhei todas as pessoas, em detalhes. Vi tudo e tanto, até demais. Mas estava desumana.
         Em geral sou e sinto, é até um desgaste pessoal e emocional, pois venho próxima das pessoas. Mas hoje, apenas olhei e vi aquela gente toda, sem relacioná-las com a vida ou comigo. Estive ausente delas.
         Descobri que na farmácia Pacheco é muito mais barato que nas outras, e é só andar mais um pouquinho.
         Comprei o JB, era o último exemplar. Aumentou “disse o jornaleiro”. De fato passou de 1,5 para 2,0. Não faz diferença.
         Dei uma paradinha no Vila Rica, na calçada. Um coco e dois pasteizinhos de queijo. Mais para descansar, não estava com fome ou sede. Vi que as pessoas, em sua maioria estão em grupos ou a dois,
         Vi que eu caminho só. Não procuro ninguém. E não sou triste.
Vi um menino pobre, alto, sujo, descalço, vinha me pedir... Mandei o garçom dar-lhe um “joelho” que é um salgadinho de queijo e presunto, um mata-fome. Nada senti, nem pena, nem compreensão, nem preocupação.
         Vi uma velha encarquilhada, calçada com uma sandália estropiada e de tamanho maior que o pé dela, magra, quase um graveto de ossos vestidos; dirigiu-se ao garçom e seus olhos eram grandes e quase imploradores. Não senti a menor pena, nem compreensão. Cada coisa, apenas vi.
         Eu fui só na rua para comprar o açúcar para os meus selinhos.                      
         Estes são minha alma. Já esperavam por mim.