HUMILHAÇÃO OU ESNOBISMO?

Um dia desses, no meu local de trabalho, tive a desventura de presenciar uma cena de esnobismo com um quê de humilhação, que me deixou com dó e, concomitantemente, chateado. Na realidade o fato em questão não teve nenhuma relação direta com a minha pessoa. Fui simplesmente mera testemunha. Aconteceu sim, com um freguês, por sinal, um senhor sexagenário, mas bem lúcido, aposentado, bastante conhecido em nossa comunidade.

O referido senhor, por sinal, por total descontrole na sua humilde "agenda" financeira, vive sempre endividado, aliás, como a maioria dos brasileiros, diga-se de passagem. Talvez, devido a facilidade que ele tem para conseguir empréstimoos junto aos Bancos ou demais Financeiras, o que acontece é que, no dia de receber a sua aposentadoria, por sinal, uma mísera quantia, automaticamente desaparece da sua conta, em virtude do famigerado débito automático assinado e autorizado por ele mediante os contratos de financiamentos. Os seus credores são sempre bem educados e o tratam muito bem, assim como qualquer outro aposentado. Pois é sempre assim, quando está terminando um empréstimo, o seu périplo é sempre o mesmo. Bancos e Financeiras à vista. E assim vai levando a sua vida humilde, simples e apertada.

No seu simples apartamente mora só o casal, ele e a sua companheira, também com mais de 60 anos de idade. O sr. Benedito, amiúde, segundo ele confessa (e ai de quem duvida) ainda tem uma vida sexual ativa, ou seja, num intervalo de dois meses, segundo o próprio, aquele casal ainda tenta algum momento íntimo. Se tem algum êxito, só Deus sabe, mas pelo menos, eles aproveitam para relembrar aqueles outros bons momentos que tiveram no passado.

Após esse vasto preâmbulo vamos à cena de esnobismo ou humilhação citada no primeiro parágrafo, a qual me deixou constrangido e chateado, repito, pois fui testemunha à minha revelia. Tudo parecia uma brincadeira. Sim e o foi. Só que uma brincadeira de péssimo gosto, por sinal. Ela partiu do proprietário de uma pequena loja de variedades contígua ao meu ponto comercial. Talvez por ele ter um estilo brincalhão, extrovertido, gosta de conversar com quase todos que passam por ali, dessa vez pegou um pouco pesado. Tudo indica que ele não mediu as consequências do seu gesto. Repentinamente ele tirou uma cédula de R$100.00 (Cem Reais) do bolso e colocando-a sob o balcão na minha frente assim falou, esnobando:

- Vamos ver a reação do seu Dito com relação essa nota?

Não falei nada, mas ele imediatamente o chamou, quando ia passando inocentemente pela outra calçada da rua. E não deu outra, quando ele se aproximou e viu aquela nota rara sobre o balcão não demonstrou nenhum admiração anormal. Apenas disse olhando para nós, que a estas alturas, pareciam dois patetas e bem feito para nós:

-Ué, e essa nota aí? É falsa?

A frustração do autor daquela brincadeira foi notória. Ele, sem dúvida, esperava outra reação bem diferente daquela demonstrada por aquele senhor aposentado, duro, humilde e tranquilo, aparentemente, pelo menos. Assim sendo, tentou forçar a barra, dizendo:

-Já pensou, seu Dito, uma nota dessa em seu bolso?

-Olha, vou ser bem sincero com vocês, se eu ganhasse uma nota dessa aí, não daria nem tempo de colocar no meu bolso. Eu iria imediatamente fazer uma pequena compra, principalmente alguma mistura, pois há duas semanas que eu e minha velha não sabemos o que é um pedaço de carne!

E assim terminou aquela brincadeira de mau gosto, quando na realidade nem deveria ter começado. Mas infelizmente sempre encontramos alguém que não tem o senso de ridículo e costuma perder uma grande chance de ficar calado.

João Bosco de Andrade Araújo

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JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 05/04/2009
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