UMA CRÔNICA DE DOMINGO
A razão me manda terminar a monografia, ou ainda concluir o relatório que devo entregar terça-feira. Mas quem disse que preciso de razão em pleno domingo? Também queria não precisar dela na segunda, terça, quarta (...) sábado; queria só emoção, poesia. Ler sem nenhum compromisso com fichamentos, escrever sem preocupar-me com ABNT.
Eu queria um domingo com gosto de goiabada com queijo, passeio no parque, banho de chuva, mergulho no rio, sorvete de limão, manga tirada no galho mais alto, suco de tamarindo ou abacaxi com hortelã.
Queria um domingo sem pressa. Sem compromisso. Deitada na rede lá do alpendre de Zélia, jogando conversa fora com ela e Zé Maria, ou na área de Sunally, conversando, rindo, falando das descobertas de cada uma.
Que saudade dos meus domingos sem internet. Sem computador. Só com livros, ahhhh! Estraguei tudo, falei em livros e olhei aqui em volta, estou rodeada deles, Grice, Searle, Austin, Wittgenstein, e tantos outros, todos aqui, olhando para mim, esperando serem folheados.
É, não tenho como fugir. Meu domingo é este. Com monografia. Relatório. E sem tempo de ficar aqui, navegando. Lendo. Escrevendo qualquer coisa. Emocionando-me com belos textos. Que bom que existe tudo isso. Que tenho computador, internet e vocês, mesmo que, temporariamente eu não possa visitá-los com a freqüência que gostaria.
Preciso ir, meus filósofos me esperam. Tão pacientes, eles! Pena que os orientadores do TCC sejam tão apressados e determinem prazos. Quem já ouviu falar em produção filosófica com data determinada? Que contra-senso! Deveríamos ter todo tempo do mundo, no mínimo o tempo que precisássemos – quem sabe uma eternidade? Será por isso que não nos tornamos filósofos? Deve ser...