Vida de pobre, mas vida feliz!

Torcídio, embora tal nome de batismo não se encabulava com nada, nem mesmo com o fato de ser assalariado e ser esposo de mulher analfabeta, uma filha adolescente e pai três filhos crianças. Confiava no amanhã e por isso sempre andava sem dinheiro, porque o salário do mês gastava em uma tarde do dia em que o recebia; pagava conta do armazém, do açougue, do homem do gás, luz, e outras pequenas dívidas que contaria no decorrer do mês, e na manhã do dia seguinte reabria todas as cadernetas. Água não pagava porque enchia a caixa com o liquido trazido em latas de uma torneira publica, próxima sua casa. A bacia de zinco, em sua casa era a piscina!

A rotina de Torcídio se mantinha por onze meses do ano, até chegar as férias, que aproveitava para não ir a lugar nenhum, e se deliciava em ouvir variedades no radinho de pilha, pois televisão só a mulher assistia. Na casa do vizinho, dono do armazém! Os meninos jogavam bola na rua de barro junto com outras alegres crianças, tão igualmente desafortunadas. E as noites invadiam os dias num tédio que só era percebido por terceiros, já que na principal parede descascada da sala, afixada com pregos tortos se destacava uma placa mal pintada escrita “lar doce lar”, mesmo que faltasse açúcar para o café.

O ferro aquecido com carvão da sobra do fogão que soltava fumaça embaixo de uma latada, passava as roupas surradas e remendadas com as quais ia ao culto: “Agradecer a Deus”, dizia sempre ao tempo que afirmava: “Eu sou o lírio dos campos, o Senhor sempre tece para mim as minhas roupas”. E entrava noite e saía noite, e Torcídio esperando o domingo para dizer a Deus “obrigado!”, mesmo consciente que Ele estava ao seu lado.

Um dia, dia em que tanto precisava, saiu de casa com uma nota de cinco reais no bolso, extra que ganhara trocando o pneu de um carro que o tivera furado bem em frente a sua casa, e a motorista idosa não conseguia fazê-lo. O dinheiro caiu de seu bolso, e o pobre homem rico de humanidade, de longe percebe que a nota estava caída no caminho, apressasse em retornar ao local da perda, mas uma aluna do colégio ali próximo chegou antes, pegou a nota a ergueu e agradeceu a Deus pois era quanto necessitava para comprar um novo caderno solicitado pela professora.

Torcídio passou direto, percebendo momento e maravilhado agradeceu a Deus pela oportunidade de ter podido a ajudar alguém, nem que este alguém só agradecesse ao Senhor dos senhores: “Não foi uma perda, mas um ganho”, disse ele em sua oração, ali mesmo no caminho. No mesmo dia ao chegar no emprego lhe deram a notícia de que o bolão da loteria havia sido premiado. Ele que participava com a menor cota, recebeu o menos valor no rateio. Mas com o dinheiro pode comprar um barraco, ter água encanada, roupas sem remendo, e uma nova placa de “lar doce lar”.

O emprego é o mesmo, a rotina pouco mudou, mas de uma coisa Torcídio não abriu mão. De procurar aquela jovem estudante e contar-lhe o que aconteceu naquele dia em que Deus o usou como instrumento, e a ela também, para que o mundo saiba que nada acontece por acaso!

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(*) Barão de Mandacaru é um personagem, mas, observador,

vê a cada instante o que Deus o tem reservado.

Barão de Mandacaru
Enviado por Barão de Mandacaru em 05/04/2009
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