Via Sacra nos dias de hoje.
Gosto de Igrejas vazias, dá a impressão que Deus está mais próximo, que ouve com atenção, as nossas preces.
Pensando assim percorri sem pressa o espaço silencioso cheirando a incenso e cera derretida. Do alto um Cristo sangrento me observava...
Sem jeito desviei o olhar que encontrou ainda mais desconforto nas pinturas dos quadros que contavam a “Via Sacra”.
Envergonhada, pelos atos dos homens olhei o rosto dolorido de Maria, que como tantas mães, de hoje, choram por seus filhos; vítimas ou algozes, mas que para elas, são apenas filhos...
Senti a agonia do soldado, nos romanos ali simbolizados, que muitas vezes prendem um inocente obedecendo a ordens superiores ou por ter medo; ao prender um facínora, e com isto expor a própria vida.
Olhei para aquela turba onde se aglomeravam corações maldosos que esperavam apenas um espetáculo violento,parecendo conosco, quando em nossos tempos, nos aglomeramos, para ver as manchetes tenebrosas dos jornais, que noticiam estupros, assassinatos, escândalos financeiros, guerras e horror...
No rosto de Pôncio Pilatos vi a covardia das autoridades que lavam as mãos no egoísmo e na ganância e condenam todo um povo aos sofrimentos, das filas dos hospitais públicos, ao medo da bala perdida, e a ignorância pela falta de escolas.
Na traição de Judas, o desrespeito com que os nossos políticos traem nossos votos.
Na negação de Pedro, a nossa omissão, que deixa crianças, se consumirem na droga e miséria ao passarmos ao lado, fingindo não ver ou nos escondendo, preocupados apenas, com nós mesmos.
E como naqueles dias, da Paixão, são poucos os Cirineus, as Verônicas e mesmo uns Josés de Arimatéias, que olhem o outro, com misericórdia...
E ainda como naqueles dias, sinto uma grande dor; pois muitos são os Barrabás, que insuflam as ovelhas a se tornarem lobos.
Apesar de tudo quero crer numa renovação, numa transformação do homem velho, cheio de defeitos, no homem novo, repleto de amor e de perdão. Que finalmente entende a mensagem do carpinteiro e com humildade e coragem, suplica ao Criador, - perdoe-nos, não sabíamos o que fazíamos, hoje entendemos que apesar de diferentes, em língua, credo ou cor, somos Seus filhos e, portanto irmãos.
Jacydenatal
Rio, 05/04/2009